"Qualquer coisa serve o meu poema
um pássaro
uma bicicleta
o andar de um velhote
a corrida de um atleta
o som de um fagote
o silêncio de um poeta
qualquer coisa serve o meu poema
a conta mais simples
ou o maior problema
uma caneta sem tinta
e este meu dilema
um chapéu sem cabide
um relógio sem corda
a mais pequena pevide
uma bengala sem mão
um sorriso com pinta
e o verso de empurrão
qualquer coisa serve o meu poema
a minha vontade
a minha indecisão
o esforço que faço
para o poema dar o passo
o sacrifício
para construir este edifício.
Tudo o que serve o meu poema
não é muito nem pouco nem nada
é o que se tem e o que se quer
qualquer coisa ou coisa qualquer."
Inês Pascoal, "Qualquer coisa", in A dança das Palavras. Alfragide: Caminho, 2016.
Imagem: Copyright- Suren Nersisyan
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