terça-feira, 19 de maio de 2020

Minutos de Leitura (XXI - 3.º Ciclo)


"Qualquer coisa serve o meu poema
um pássaro
uma bicicleta
o andar de um velhote
a corrida de um atleta
o som de um fagote
o silêncio de um poeta

qualquer coisa serve o meu poema
a conta mais simples
ou o maior problema
uma caneta sem tinta
e este meu dilema
um chapéu sem cabide
um relógio sem corda
a mais pequena pevide
uma bengala sem mão
um sorriso com pinta
e o verso de empurrão

qualquer coisa serve o meu poema
a minha vontade
a minha indecisão
o esforço que faço
para o poema dar o passo
o sacrifício
para construir este edifício.

Tudo o que serve o meu poema
não é muito nem pouco nem nada
é o que se tem e o que se quer
qualquer coisa ou coisa qualquer."

Inês Pascoal, "Qualquer coisa", in A dança das Palavras. Alfragide: Caminho, 2016.
Imagem: Copyright- Suren Nersisyan

Sem comentários:

Enviar um comentário