Lê um excerto desta obra, que nos fala sobre a importância do
respeito pela Natureza:
“Tudo começou com a chegada da intrusa:
Pela calada da noite, ouvem-se suaves passos que se dirigem
sorrateiramente à entrada do carvalhal:
-Boa noite, Carvalho! – soa uma voz suave e delicada.
- Hã!? Quem és tu que vens a esta hora?! E que voz meiga é essa
que não é comum a quem madruga?!
- Sou de fora, venho por bem! – respondeu a desconhecida.
- Humm! – exclama o velho carvalho indígena enquanto desconfiadamente
coça as barbas feitas de líquen e musgo.
- Deixa-me entrar, estou muito cansada, tenho o tronco dorido e
as raízes inchadas, preciso de um espaço onde possa estender as minhas raízes e
descansar o meu tronco.
- Mas quem és tu que chegas a estas horas?
- Tal como tu, sou uma árvore que precisa de terra e ar e sol e noite e vento e chuva. Tal como tu, caro Carvalho, sou apenas um ser vivo que procura o aconchego de uma floresta e a proteção de ramos fortes como os teus, onde eu possa descansar em segurança depois desta viagem tão longa. Ah! Como estou cansada.
- Tal como tu, sou uma árvore que precisa de terra e ar e sol e noite e vento e chuva. Tal como tu, caro Carvalho, sou apenas um ser vivo que procura o aconchego de uma floresta e a proteção de ramos fortes como os teus, onde eu possa descansar em segurança depois desta viagem tão longa. Ah! Como estou cansada.
- Poderás ao menos dizer-me o teu nome, misteriosa forasteira?
- O meu nome não posso dizer, porque se o dissesse acordaria
todos os animais e plantas que dormem nos teus bosques; basta saberes que sou
uma árvore muito mimosa.
- Lá isso pareces ser! – concorda o carvalho.
- E o que queres deste bosque de Quercus?
- Quercus???!!!
- Quercus ou carvalhos, como queiras, quer dizer o mesmo.
- Ahh! Ufa! Queres matar-me do coração com esses palavrões?
-Quercus não é nenhum palavrão, é apenas o nome em latim de
todas as árvores da minha família; pensa-se que no passado a floresta
portuguesa era composta principalmente por espécies da minha família. Em latim
o meu nome é Quercus, Quercus faginea, mais conhecido por carvalho português,
sou uma espécie autóctone, isto é, sou natural da floresta portuguesa. Sou
primo do carvalho-negral, do roble, do sobreiro, da azinheira, da carvalhiça e
do carrasco; todos eles são da família Quercus.
Contam os meus antepassados que, por entre carvalhos, sobreiros
e azinheiras, cresciam e viviam exemplares de muitas outras espécies da flora,
também autóctones, e eram muitos os animais, répteis, aves e mamíferos que se
alimentavam e viviam na tranquilidade da nossa folhagem, na harmonia e
equilíbrio das nossas florestas. Nesse tempo havia ursos na nossa companhia e
havia…
- Nunca ouvi falar de tal família chamada Quercus, mas, se é
como dizes, se a tua família deu e dá abrigo a tantos seres vivos, não irá, com
certeza agora negar abrigo a uma pobre mimosa desamparada!
- Mas o que procuras afinal, árvore mimosa?
- Gostava muito de poder fazer parte do teu bosque; só preciso dum cantinho para poder descansar as minhas raízes e o meu tronco, procuro um abrigo no seio da tua família. Se me deixares entrar e estender as minhas raízes, prometo que te compensarei na próxima Primavera com as minhas belas flores perfumadas.
- Gostava muito de poder fazer parte do teu bosque; só preciso dum cantinho para poder descansar as minhas raízes e o meu tronco, procuro um abrigo no seio da tua família. Se me deixares entrar e estender as minhas raízes, prometo que te compensarei na próxima Primavera com as minhas belas flores perfumadas.
- Bem, ao carvalhal todos são bem-vindos e, se estás na verdade
disposta a fazer alguma coisa para enriquecer esta floresta, então, ainda podes
entrar. Estende as raízes aqui perto de mim e eu dar-te-ei a minha proteção.
- Mil vezes obrigada, gentil carvalho! Vais ver que não te
arrependerás – agradecia a forasteira enquanto se instalava e fixava assuas
raízes no solo fresco e fértil do carvalhal.
Nos dias que se seguiram a intrusa não se cansou de pedir
favores ao carvalho:
Um dia pediu para que desviasse os seus ramos para o outro lado
porque “preciso de apanhar sol” – dizia ela – Outro dia pediu ao carvalho que lhe
desse um pouco da sua comida: “estou com uma fome…”
Passados alguns meses as raízes da intrusa já estavam tão
grandes que absorviam todo o alimento que estava no solo, sem se preocuparem
deixar o que quer que fosse para o carvalho que a acolheu e para a família
Quercus.
Começavam agora a aparecer pequenos rebentos da intrusa que
pareciam surgir a partir das raízes e não paravam de nascer cada vez mais
distantes da sua mãe.
- Só mais uma coisa, forasteira mimosa! – perguntou um dia o
carvalho.
- Diz!
- Ainda não me disseste o teu nome.
- O meu nome é… é… Acácia.
- Hã??? Acácia?!!! Mas isso não é o nome daquela árvore
invasora?!
- Háaaa! Háaaa! Há! Estava a ver que não percebias… Não achas
giro? Pois a mim parece-me uma ideia linda, até dava para o nome de um filme
“Acácias que crescem por entre os Quercus” ou “A Invasão da Floresta
Autóctone”… Háaaa! Há! Há!
E foi assim que começou a destruição da floresta onde eu vivia:
primeiro chegaram as acácias trazidas pelo homem da África e da Austrália.
Para além de serem árvores exóticas, são também chamadas
invasoras, isto porque no sítio onde crescem, travam verdadeiros combates com
as espécies indígenas, roubam-lhes o alimento, a luz, a água e acabam por
sufoca-las. As invasoras são espécies muito difíceis de combater e por isso
ameaçam a floresta autóctone que ainda existe.
Depois chegaram os eucaliptos, vindos também da Austrália e as
háquias, que se instalaram da mesma forma à volta do carvalhal e minando-a com
as suas sementes e raízes.
Atacados em várias frentes, através de estratégias distintas, os
Quercus foram recuando e cedendo espaço aos intrusos.
Hoje, vivo numa floresta pobre e triste, uma floresta minada
pelas exóticas onde poucos animais encontram alimento para saciar a sua fome,
porque no país onde vivo não há animais que se alimentem de acácia, nem de
eucalipto, nem de háquias ou ciprestes e, por isso, a maior parte dos que
outrora aqui viviam já há muito partiram em busca de um local mais agradável
para viver.
Quanto a mim, sobrevivo com a minha família, abrigando-me no
tronco de um velho carvalho que ainda resiste à invasão.
Sou a Doninha Mustela, e asseguro-vos que gostava muito mais de
vos contar uma história feliz, mas não conheço nenhuma.”
Contos da Biodiversidade / Alexandrina Pipa. Lisboa: Quercus.
.
Três
ideias para tu explorares.
1. Espreita o guia
da biodiversidade da Associação Rio Neiva acessível aqui: https://rioneiva.com/bioneiva/catalogo-da-biodiversidade/
. Tem uma bonita história e muita informação sobre os seus
"moradores".
Convida a tua
família, durante a semana ou fim-de-semana, a fazerem os trilhos existentes
nesta zona e vai identificando as espécies e habitats, consultando o guia.
2.
Tira fotos que te chamarem a atenção, identifica a espécie e o seu habitat.
Coloca o teu nome e identifica a Associação Rio Neiva e partilha nas redes
sociais da associação, no Facebook e Instagram com #associacaorioneiva e
#bioneiva #rioneiva e envia para o email da biblioteca biblioteca@marinhas.org.
3.
Escreve uma frase sobre o que sentiste nesse contacto com a Natureza, os alunos
mais novos; os mais velhinhos escrevam um pequeno texto com 3 a 5 linhas.
4.
Constrói numa folha A4 um pequeno herbário (coleção de plantas secas
organizadas e classificadas) com folhas que encontres no teu passeio e faz uma
pequena descrição, de cada uma.
Partilha com a Biblioteca Escolar estas
propostas de trabalho. Podes fazê-lo do seguinte modo:
- Fazer
um comentário no blogue (basta teres um e-mail)
-Tira uma fotografia e envia para o e-mail da
biblioteca (biblioteca@marinhas.org)
Obrigado,
A Biblioteca Escolar.
22.05.2020
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