"As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oito nas lombadas.
E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.
As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: "Floresta das zonas temperadas".
É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras."
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"Tenho folhas lanceoladas,
lobadas, lineares,
redondas, sagitadas,
elípticas, ovalares,
pilosas ou ciliadas,
filiformes, triangulares,
inteiriças, espatuladas,
emforma de coração.
E folhas A4 e A5,
lisas ou quadriculadas.
Mas estas não são
para aqui chamadas.
- Ou serão?"
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"Por mais que tente, o vento
não consegue adormecer
se não tiver nada para ler.
Seja uma folha de tília,
de bambu ou buganvília.
É por isso que o vento
arrasta as folhas consigo,
até encontrar um abrigo,
onde possa adormecer.
- arrastou até a folha,
onde eu estava a escrever!"
"As árvores e os livros", "O meu caderno e folhas" e o vento", in Herbário / Jorge Sousa Braga; il. Cristina Valadas. Lisboa: Assírio&Alvim, 2007.
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