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terça-feira, 21 de março de 2023

Dia mundial da poesia

 


"Era preciso agradecer às flores
Terem guardado em si,
Límpida e pura,
Aquela promessa antiga
Duma manhã futura."

"Depois do Inverno, morte figurada,
A primavera, uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores."

"Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás as mãos de quem te espera."


"Flores", "Primavera", "Glória" de Sophia; Miguel Torga e Eugénio de Andrade

quarta-feira, 1 de março de 2023

Um mês com Agustina e Eugénio...

No centenário de Agustina e de Eugénio de Andrade as suas palavras e a sua celebração são também o que elas deixaram nos seus leitores e nos que os conheceram. O Porto não tendo sido o seu lugar de nascimento físico, foi para Eugénio de Andrade uma influência marcante na sua poesia. A sua figura era um vulto existencial da cidade das camélias e muitos o ouviram e dele aprenderam palavras no rumor das coisas.

"Trouxe-te um ramo de frésias
(não eram essas as flores dos jardins de 
                                            Castelo Branco?)
embrulhadas em celefone
por causa do frio
Trouxe-te um ramo de frésias
já que não te podia trazer um rio."

"Aniversário" / Jorge Sousa Braga, in Aproximações a Eugénio de Andrade. Porto: Edições Asa, 2002

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Um mês com ... Eugénio de Andrade

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam que são as mãos de deus
— eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.


Eugénio de AndradeCoração Habitado; Imagem - Talebayat.com

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Um mês com ... Eugénio de Andrade


Num distante janeiro, do ano de 1923 nasceu um dos grandes poetas da cultura portuguesa e que se comemora este ano o centenário do seu nascimento. A sua dimensão carece que dele falemos sempre um pouco mais, ele que nos guarda as palavras, as simples palavras. Um dos seus poemas, nessa procura da simplicidade maior, da luz solar, da água, da beleza dos gestos essenciais da vida.

Estive sempre sendo nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha coração
magoado (porque o0 amor, perdoa dizê-lo, 
dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,
tão feito de privação). Estou onde
sempre estive: à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.

Eugénio de Andrade, Poesia, Modo de Ler.

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Recomeçar...

 


"Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,

Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças."

 "Diário XIII",  in Antologia Poética / Miguel Torga. Lisboa: D. Quixote.

(pensando nos recomeços e no autor do mês de janeiro, Miguel Torga)

quarta-feira, 1 de junho de 2022

junho


"Talvez, talvez sejam os últimos
dias. Se for assim, são um esplendor. 
Apesar dos aviões .... despejarem 
bombas e bombas ...., a perfeição 
mora neste muro branco 
onde o escarlate 
da flor da buganvília sobe ao encontro
da luz fresca da manhã de Junho. 
A beleza (não há outra palavra 
para dizê-lo), desta manhã 
é terrível: persiste, domina – 
apesar dos aviões, mesmo com
bombas a cair e crianças a morrer. "

Eugénio de Andrade, "manhã de junho", in Os sulcos da sede. Porto: Assírio & Alvim, 2001.

terça-feira, 3 de maio de 2022

Um poema | No mês de maio


Amanhã não estaremos já neste lugar
amanhã a cidade já não terá o teu rosto
e a canção não virá cheia de ti
escrever em cada árvore o teu nome verde.

Amanhã outros passarão onde passámos
farão os mesmos gestos dirão as mesmas palavras
dirão um nome baixo um nome loucamente
como quem sobre a morte é por instantes eterno.

Amanhã a cidade terá outro rosto.
Nós não estaremos cá. Mas a cidade
já não será contra o amor amanhã quando
os amantes passarem na cidade livre.

Nós não estaremos cá. Voltaremos em Maio
quando a cidade se vestir de namorados
e a liberdade for o rosto da cidade nós
que também fomos jovens e por ela e por eles

amámos e lutámos e morremos
nós voltaremos meu amor nós voltaremos sempre
no mês de Maio que é o mês da liberdade
no mês de Maio que é o mês dos namorados. 
 Manuel Alegre, "Nós voltaremos sempre em Maio"
Imagem: Copyright - takaclip

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Um poema

                                                     

                                                        "(...)Que o poema seja microfone e fale
                                                                              uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sono estale
e a gente acorde finalmente em Portugal.

Que o poema seja encontro onde era despedida.
Que participe. Comunique. E destrua
Para sempre a distância entre a arte e a vida.
Que salte do papel para a página da rua.

Que o poema faça um poeta de cada
Funcionário já farto de funcionar.
Ah que de novo  acorde no lusíada
A saudade de novo o desejo de achar.

Que o poema diga o que é preciso
que chegue disfarçado ao pé de ti
e aponte a terra que tu pisas e eu piso.
E que o poema diga: o longe é aqui".

Manuel Alegre, "Poearma", in Poemas de Abril

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Poesia Visual - 5.º FC / 7.º FA / 7.º FB

                                                                         Poesia Visual - 5.º FC / 7.º FA / 7.º FB (link de acesso)


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segunda-feira, 4 de abril de 2022

Poesia Visual - 6.º FA / 6.º FB

                                                    Poesia Visual - 6.º FA / 6.º FB (link de acesso)


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Poesia Visual - 5.º FB

    Poesia Visual - 5.º FB (link de acesso)


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quarta-feira, 30 de março de 2022

Poesia visual - 5.º FA

                                                                 Poesia Visual - 5.º FA (link de acesso)

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segunda-feira, 21 de março de 2022

Poesia Visual


 Matilde Marques, 7.º FA

Poesia visual

Os alunos do Agrupamento, do 5.º ao 9.º ano, nas escolas EBARS e EBF, celebram, hoje, dia 21 de março, o dia Nacional da Poesia, homenageando o povo ucraniano. Através da poesia e da arte, os discentes recordam os poetas que embelezam a literatura portuguesa e relembram a importância das palavras “Liberdade”, “Amor” e “Democracia”. Os trabalhos podem ser visionados no link ao lado: Poesia visual

Dia mundial da poesia

 

Dia Mundial Da Poesia by BibliotecasAears on Scribd

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Um poema - Endymion (excerto)

 


O que é belo há de ser eternamente
Uma alegria, e há de seguir presente.
Não morre; onde quer que a vida breve
Nos leve, há de nos dar um sono leve,
Cheio de sonhos e de calmo alento.

 John Keats. (1841). "Endymion", in The poetical works of John Keats. London: William Smith.
Imagem: Gustave Caillebotte, "The Garden", 1878, Colecção particular.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Um poema - A palavra, a fábula, o mundo


Escrevo para entrever o que seria o mundo 
liberto de si mesmo e sem imaginar
pouso no limite entre a luz e a sombra
para me oferecer à nudez de um começo

Há palavras que esperam na sombra contra o muro
para serem a felicidade de uma folha aberta
sem mais sentido que o perpassar da brisa
mas que abrem o mundo e de doçura tremem

Não é preciso polir a madeira das palavras
ou talhá-las como se fossem seixos
Há um lugar para elas no branco e não numa alfombra de
ouro
e quanto mais frágeis mais frescura exalam
porque elas são a fábula do mundo quando a água o embala.


António Ramos Rosa. (2001). Antologia Poética. Alfragide: D. Quixote.
Imagem: Copyright - lleana Bosogea-Tudor (Via http://1x.com/)

terça-feira, 2 de novembro de 2021

novembro...


"Não há ninguém à entrada de novembro.
Vem como se fora nada.
A porta estava aberta,
entrou quase sem pisar o chão.

Não olhou o pão, não provou o vinho.
Não desatou o nó cego do frio.
Só na luz das violetas se demora
sorrindo À criança da casa.

Essa boca, esse olhar. Essa mão
de ninguém. Vai-se embora,
tem a sua música, o seu rigor, o seu segredo.
Antes porém acaricia a terra.

Como se fora sua mãe."

"Não há ninguém à entrada de novembro" / Eugénio de Andrade, in Poesia. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2005.
Imagem,  Copyright - Norbert Mayer, Autumn Days.

terça-feira, 1 de junho de 2021

junho

Junho tem ar de festa
mesmo que festa não haja.
Não se sabe bem porquê,
se todos ainda trabalham.
Talvez festa de ser véspera
de chegar, em junho, o Verão
e com ele um ,
um comboio, um avião,
ou simplesmente umas pernas
de andarilho sem receio,
que nos levem com os amigos
a um lugar de eleição
que se guarde para sempre
no baú do coração.

João Pedro Mésseder, O Livro dos meses. Lápis de Memórias. 2012.


segunda-feira, 5 de abril de 2021

abril...


"Que cheiro doce e fresco,
por entre a chuva
me traz o sol,
me traz o rosto,
entre março e abril
o rosto que foi meu,
o único
que foi afago e festa e primavera?
 
Oh cheiro puro e só da terra!
não das mimosas,
que já tinham florido
no meio dos pinheiros;
não dos lilases,
pois era cedo ainda
para mostrarem
o coração às rosas;
mas das tímidas, doces flores
de cor difícil,
entre limão e vinho,
entre marfim e mel
abertas no canteiro junto ao tanque
 
Frésias,
ó pura memória
de ter cantado –
pálidas, fragrantes,
entre chuva e sol
e chuva
- que mãos vos colhem,
agora que estão mortas
as mãos que foram minhas?"

" Entre Março e Abril", in Coração do Dia - Mar de Setembro. Porto: Assírio & Alvim,2013.
Imagem: (frésias) - Copyright: Internatinal Bulb Society.