Mostrar mensagens com a etiqueta O Livro do mês - (2021). Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta O Livro do mês - (2021). Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Leituras...

  De um significado de um texto que elementos se podem escolher? De toda a narrativa o que fica mais visível? O que escolher de modo a ilustrar algo essencial, de um menino, da floresta a percorrer e de uma flor? O que será essa flor? E o menino o que sentirá por essa flor salva? Algumas ideias visuais...

 

 

                        (Ilustrações de Margarida, Letícia, Maria Luísa, Filipa e Clara) – 3.º / 4.º FJ


 

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Escritas...

Associar elementos e com eles imaginar uma história.

Era uma vez uma menina que tinha um cabelo longo e loiro. No seu cabelo existiam algumas laranjas. Ao passear junto a uma laranjeira encontrou um ninho e decidiu comer uma laranja.
a laranja era muito boa. Decidiu regá-la com palavras da sua imaginação... E logo apareceu um pássaro que se encostou no ninho.
Chegou então um cão, e talvez fosse da imaginação aquilo que a laranjeira tinha. 
Mas não era uma laranjeira, mas sim uma árvore normal. 
De repente apareceu um palhaço.
E assim se juntaram uma menina, um cão, um palhaço, um pássaro, uma laranja e uma árvore.
 
Tomás Cruz, 4.º FK

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

O livro do mês - A menina do mar

 


"Casa branca em frente ao mar enorme,

Com o teu jardim de areia e flores marinhas 
E o teu silêncio intacto em que dorme 
O milagre das coisas que eram minhas.

Era uma vez uma casa branca nas dunas, voltada para o mar.
Tinha uma porta, sete janelas e uma varanda de madeira pintada de verde. Em roda da casa havia um jardim de areia onde cresciam lírios brancos e uma planta que dava flores brancas, amarelas e roxas.
Nessa casa morava um rapazito que passava os dias a brincar na praia.
Era uma praia muito grande e quase deserta onde havia rochedos maravilhosos. Mas durante a maré alta os rochedos estavam cobertos de água. Só se viam as ondas que vinham crescendo do longe até quebrarem na areia com um barulho de palmas. Mas na maré vaza as rochas apareciam cobertas de limos, de búzios, de anémonas, de lapas, de algas e de ouriços. Havia poças de água, rios, caminhos, grutas, arcos, cascatas. Havia pedras de todas as cores e feitios, pequeninas e macias, polidas pelas ondas. E a água do mar era transparente e fria. Às vezes passava um peixe, mas tão rápido que mal se via. Dizia-se “Vai ali um peixe” e já não se via nada. Mas as vinagreiras passavam devagar, majestosamente, abrindo e fechando o seu manto roxo. E os caranguejos corriam por todos os lados com uma cara furiosa e um ar muito apressado.
O rapazinho da casa branca adorava as rochas. Adorava o verde das algas, o cheiro de maresia, a frescura transparente das águas. E por isso tinha imensa pena de não ser um peixe para poder ir até ao fundo do mar sem se afogar. E tinha inveja das algas que baloiçavam ao sabor das correntes com um ar tão leve e feliz."

A Menina do Mar / Sophia de Mello Breyner Andresen ; il. Fernanda Fragateiro. – Porto : Porto Editora, cop. 2012. – 38, [2] p. : il. ; 23 cm. – ISBN 978-972-0-72621-6

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Livros do mês - 2.º e 3º Ciclos - maio (II)

 


"o escuro às vezes não é falta de luz

mas a presença de um sonho..." - velho muito velho que inventa as palavras

“a beleza às vezes é um lugar onde o olhar já sabe aquilo que não quer esquecer...” - velha muito velha que destrói as palavras

"O silêncio é uma esteira onde nos podemos deitar.

Esteira de poeira cósmica, se eu olhar de novo o céu escuro. Esse azul do céu me lembra o chão do mar. Um mar, afinal, é só um deserto molhado, em vez de homens e camelos, tem peixes e canoas a passear nele. O deserto é parecido com o mar, o mar é parecido com o universo cheio de estrelas pirilampas.

O deserto podia caber no peito do mar, o mar podia caber no corpo do universo, o universo só pode caber no coração das pessoas. A mão dela estava perto da minha. Senti uma comichão de ausência na proximidade daquele calor, sabia que os dedos dela estavam ali, e continuava a falar para não saber, no coração, que todo o meu corpo pedia uma carícia calada.

– Achas que pode caber o quê, no coração das pessoas?

– Muitas coisas. Um poema, uma recordação, um cheiro de infância, um «desejo de estrelas»…

– Como é um «desejo de estrelas»?

– É olhar para uma estrela e desejar uma coisa.

Num susto quase pouco, ela fez-me uma festinha lenta na mão. Ternura e gesto de amansamento.

– Vou-te contar um segredo – ela começou.

– Ainda conta – perdi o pirilampo de vista.

– Dizem que quando um silêncio chega e fica entre duas pessoas…

– Sim?

– É porque passou um anjo e lhes roubou a voz.

– Tu acreditas em anjos?

– Tu não acreditas em silêncios?

Fosse de esquecimento ou não, a mão dela tinha ficado ancorada na minha, concha e búzio nesse silêncio inventado pelos anjos".

Ondjaki, Uma escuridão bonita / Ilustrações de António Jorge Gonçalves. Alfragide: Caminho, 2013.

Livros do mês - 1.º Ciclo - maio (II)

 


No princípio, o mundo era só um.
Tudo era de todos,
ninguém pertencia a nada,
nada pertencia a ninguém.

Os animais caminhavam sem se
preocupar com o seu destino
ou com o seu regresso. Pois,
regressar para onde, se não havia
casas, nem lugares marcados?
Ia-se simplesmente andando,
comendo e dormindo onde calhava.

Como todos caminhavam,
ninguém levava nada consigo.
Ter coisas era incómodo por
causa do peso de as transportar
e o máximo que alguém carregava
era uma flor na lapela ou uma
pena no chapéu.

Mas um dia, nesse mundo
do princípio, tudo mudou.
Um urso passou junto a uma
figueira. Os figos eram o seu
fruto preferido, especialmente
aqueles que de tão maduros
até pingavam mel. (...)

Há já vários dias que sonhava
com figos e agora que se
cruzava com uma figueira,
nada!

Mas, ao dar uma volta completa
à árvore, o urso reparou que,
afinal, havia um figo quase maduro
escondido pela folhagem:
"Quanto tempo levará este figo
a ficar doce? Talvez um dia?
Amanhã por esta hora já o poderei
comer. É só uma questão de tempo. (...)

"Agora já percebi" disse o urso.
"Há figos que são para quem passa..."
"E há figos que são para quem espera"
acrescentou a lagarta.
"Pois é", disse o urso.
"E esses são os melhores que há."

Os figos são para quem passa / João Gomes de Abreu; il. Bernardo P. Carvalho. Carcavelos: Planeta Tangerina, 2016

terça-feira, 18 de maio de 2021

Livros do mês - 2.º e 3º Ciclos - maio


 "O silêncio é uma esteira onde nos podemos deitar.

Esteira de poeira cósmica, se eu olhar de novo o céu escuro. Esse azul do céu me lembra o chão do mar. Um mar, afinal, é só um deserto molhado, em vez de homens e camelos, tem peixes e canoas a passear nele. O deserto é parecido com o mar, o mar é parecido com o universo cheio de estrelas pirilampas."

Amanhecemos com a sua claridade. Vemos com ela os recortes deixados na hora crepuscular e a sua luminosidade envolve-nos em diferentes momentos do dia. Quase pensamos que com ela vemos o essencial e sentimos em écrans de possíveis o que podemos imaginar. Associamo-la muito ao que fazemos, nas rotinas que estabelecemos. Tem um simbolismo de quase verdade.

Existe, no entanto, na sua ausência todo um mundo a descobrir, feito de sombras, de cheiros, de silêncio, onde o universo se revela, onde os gestos se significam na escuridão. É nesta imensidão de noite que melhor percebemos a dimensão infinita do Universo, e que de tão vasto apenas o podemos acolher no coração, nos gestos que amamos, nos desejos mais humanos.

A luz onde tentamos viver transmite-nos muito ruído, muitos passos, largos caminhos em gestos apressados, pouco silêncio em linhas onde ouvimos mal a respiração que nos aproxima, as ideias que queremos partilhar. Na escuridão encontramos céus estrelados, universos de uma luz diferente, onde o silêncio faz anunciar anjos, onde as mãos guardam o som marítimo, os desejos dos sonhos impossíveis, do tempo redescoberto, inventado.

Na escuridão os gestos individuais são caminhos para construir pontos de luz, encontrar as memórias, as sombras perfumadas, desenhar contornos de mãos, os sonhos a acontecer. A imaginação nasce aqui, da escuridão que se quer bonita, da lua a descer nas estrelas, do perfume de abacate dos cabelos dela, do som do cheiro da água e o coração. Do coração que se veste do azul límpido e do mar habitado no sorriso, por onde a beleza se veste com as pálpebras da noite.

Livros do mês - 1.º Ciclo - maio

Há muito tempo, quando o mundo se iniciou e quando todos não tinham nada consigo, apenas desfrutando da Natureza, um urso decidiu parar junto a uma figueira. 
Ao pé da figueira, o urso observava os ramos à procura de um figo. Reparou que existia entre a folhagem um único figo e ainda um pouco verde. 
O urso pensou para consigo, "Quanto tempo levará este figo a ficar doce?"
"talvez um dia?"  
E, assim, muito confiante, sentou-se, esperando pelo seu figo maduro. 
No entanto, à volta da figueira aconteciam outras coisas... Um pequeno grande livro que nos coloca várias questões muito importantes. 
Para quem seriam os figos? 
Para quem espera? Para quem passa? Para quem os guarda? Para os mais rápidos? Para os que têm mais fome?

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Livros do mês - 2.º e 3º Ciclos - abril

 

"Os barcos que conheceram o sabor da aventura apaixonam-se pelos mares de tinta e navegam de gosto no papel.

Mundo do fim do mundo é um livro que nos remete para a memória da literatura, a esse clássico Moby Dick e igualmente para as atmosferas da defesa ambiental. É ainda um livro sobre uma narrativa de viagem, a que realiza um jovem num baleeiro nos confins do continente americano, onde o mundo parece terminar. Esse jovem cresce e mais tarde, como jornalista retornará ao sul austral, como elemento de uma movimento ecologista. Entre a viagem às zonas mais a sul do Chile ficamos a conhecer partes deste território, ao mesmo tempo tempo que conhecemos os interesses internacionais que destroem o mar e o seu património natural.

É um livro para realizar uma viagem feita de diversas narrativas, onde o sonho mais simples é do termos acesso a "mares abertos em que todas as espécies possam viver e multiplicar-se em paz e em harmonia com as necessidades humanas". Mundo do fim do mundo é um livro para descobrir os oceanos e a importância de os defendermos num espaço que é de memória, de segredo e revelação do próprio contexto do planeta e da humanidade. 

Mundo do fim do mundo / Luís Sepúlveda. Porto: Porto Editora. 2016.

Livros do mês - 1.º ciclo - abril

 


Uma árvore tinha cem sementes. Mas elas voaram... aparentemente, todas foram desaparecendo: na estrada, no mar, nas pedras, no bico dos pássaros, na barriga de um esquilo... tendo restado apenas uma, que depois de germinar serviu de lanche a um coelhinho. Mas será que foi mesmo assim?

Ao que parece, a espera valeu a pena, pois 

"A árvore já sabia:
muitas vezes,
para tudo correr bem,
basta saber esperar."


Cem sementes que voaram / Isabel Minhós Martins; Il. Yara Kono. Lisboa: Planeta Tangerina.  2017.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Minutos de leitura


"— Banco de arenques a bombordo! anunciou a gaivota de vigia, e o bando do Farol da Areia Vermelha recebeu a notícia com grasnidos de alívio.
Iam com seis horas de voo sem interrupções e, embora as gaivotas-piloto as tivessem conduzido por correntes de ares cálidos que lhes haviam tornado agradável aquele planar sobre o oceano, sentiam a necessidade de recobrar forças, e para isso não havia nada melhor que um bom fartote de arenques.
Voavam sobre a foz do rio Elba, no Mar do Norte. Viam lá do alto os barcos alinhados uns atrás dos outros, como pacientes e disciplinados animais aquáticos à espera de vez para saírem para o mar largo e ali orientarem os seus rumos para todos os portos do planeta.
Kengah, uma gaivota de penas cor de prata, gostava especialmente de observar as bandeiras dos barcos, pois sabia que cada uma delas representava uma forma de falar, de dar nome às mesmas coisas com palavras diferentes.
— As dificuldades que os humanos têm! Nós, gaivotas, ao menos grasnamos o mesmo em todo o mundo — comentou uma vez Kengah para uma das suas companheiras de voo.
— Pois é. E o mais notável é que às vezes até conseguem entender-se — grasnou a outra.
Mais para além da linha de costa, a paisagem tornava-se de um verde intenso. Era um enorme prado em que se destacavam os rebanhos de ovelhas pastando ao abrigo dos diques e das preguiçosas velas dos moinhos de vento.
Seguindo as instruções das gaivotas-piloto, o bando do Farol da Areia Vermelha tomou uma corrente de ar frio e lançou-se em voo picado sobre o cardume de arenques. Cento e vinte corpos perfuraram a água como setas e, ao regressar à superfície, cada gaivota segurava um arenque no bico.
Saborosos arenques. Saborosos e gordos. Era mesmo do que precisavam para recuperar energias antes de continuarem o voo para Den Helder, onde se lhes juntaria o bando das ilhas Frísias.
No plano de voo estava previsto que seguiriam depois até ao estreito de Calais e ao canal da Mancha, onde seriam recebidas pelos bandos da baía do Sena e de Saint-Malo, com os quais voariam juntas até chegarem aos céus da Biscaia.
Seriam então umas mil gaivotas que, como uma rápida nuvem cor de prata, iriam aumentando com a incorporação dos bandos de Belle-Île e de Oléron, dos cabos de Machicaco, do Ajo e de Peñas. Quando todas as gaivotas autorizadas pela lei do mar e dos ventos voassem sobre a Biscaia, poderia começar a grande convenção das gaivotas dos mares Báltico, do Norte e Atlântico.
Seria um belo encontro. Era nisso que Kengah pensava enquanto dava conta do seu terceiro arenque. Como todos os anos, iriam escutar-se interessantes histórias, especialmente as contadas pelas gaivotas do cabo de Pemãs, infatigáveis viajantes que voavam às vezes até às ilhas Canárias ou às de Cabo Verde.
As fêmeas como ela iriam entregar-se a grandes festins de sardinhas e lulas enquanto os machos instalariam os ninhos à beira de uma escarpa. Neles poriam os ovos, neles os chocariam a salvo de qualquer ameaça e, quando tivessem crescido às gaivotinhas as primeiras penas resistentes, chegaria a parte mais bela da viagem: ensinar-lhes a voar nos céus da Biscaia.
Kengah mergulhou a cabeça para agarrar o quarto arenque e por isso não ouviu o grasnido de alarme que estremeceu o ar:
— Perigo a estibordo! Descolagem de emergência!
    Quando Kengah tirou a cabeça da água viu-se sozinha na imensidade do oceano."
 
  História de uma gaivota e de um gato que a ensinou a voar /Luís Sepúlveda.Porto: Asa, 2005.