Eu não sei se é a hora, ou será talvez o mar, ou as cores, ou o calor meigo-macio a beijar a flor da água.Sei que é bom andar assim, pé descalço a patinhar lagos de água cristalina, mundos que surgem e somem na areia maciinha, tapetes de veludo loiro com desenhos em relevo de formas bem caprichosas.
NUm desses lagos que a maré formou ao fugir lá para o fundo, para o mais fundinho do mar, encontrei um búzio. Estava semienterrado na areia e ao retirá-lo da água vi claramente visto um vulto que saltou do búzio e - flop! - caiu, no lago, formou um pequeno redemoinho e sumiu.
- Pode lá ser! Um vulto a saltar de dentro de um búzio! Que excesso de imaginação...
Mirei e remirei o búzio, tentei espreitar o seu interior, mas todas aquelas curvas despistaram-me o olhar. Depois fiz como toda a a gente, colei o búzio ao ouvido e disse para mim mesmo:
- Encosto o búzio oa ouvido direito, o mar está do lado esquerdo, portanto talvez consiga ouvir o barulho das ondas em estereofonia. Oh, amarga desilusão!.... Se as ondas marulhavam normalmente, o búzio, esse, permaneceu mudo, não soltou sequer um pio! Caso mais esquisito.... Um búzio acabadinho de sair da água do mar e que não aprendeu a falar a linguagem das ondas... Estava cada vez mais intrigado. Pelo sim, pelo não, resolvi guardá-lo no bolso e regressei imediatamente a casa."
O Búzio de Nacar / Carlos Correia; il. Henrique Cayatte. Alfragide: Caminho, 1986
Imagem: Copyright - Dumarsismck
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