Então foi brincar para as rochas.
Começou por seguir um fio de água muito claro entre dois grandes
rochedos escuros, cobertos de búzios. O rio ia dar a uma grande poça de
água onde o rapazinho tomou banho e nadou muito tempo. Depois do banho,
continuou o seu caminho através das rochas. Ia nadando para o lado sul
da praia, que era um lado deserto para onde nunca ia ninguém.
A maré
estava muito baixa e a manhã estava linda. As algas pareciam mais
verdes do que nunca e o mar tinha reflexos lilases. O rapazinho
sentia-se tão feliz que às vezes punha-se a dançar em cima dos rochedos.
De vez em quando encontrava uma poça boa e tomava outro banho. Quando já
ia no décimo banho, lembrou-se que deviam ser horas de voltar para
casa. Saiu da água e deitou-se numa rocha a apanhar sol. (…)
“Tenho de ir para casa”, pensava ele, mas não lhe apetecia nada
ir-se embora. E, enquanto assim estava deitado, com a cara encostada às
algas, aconteceu de repente uma coisa extraordinária: ouviu uma
gargalhada muito esquisita, parecia um pouco uma gargalhada de ópera dada
por uma voz de “baixo”; depois ouviu uma segunda gargalhada ainda mais
esquisita, uma gargalhada pequenina, que parecia uma tosse; em seguida
uma terceira gargalhada, que era como se alguém de dentro de água
fizesse “glu, glu”. Mas o mais extraordinário de tudo foi a quarta
gargalhada: era como uma gargalhada humana, mas muito mais pequenina,
muito mais fina e muito mais clara. Ele nunca tinha ouvido uma voz tão
clara: era como se a aágua ou o vidro se rissem. “
A Menina do Mar / Sophia de Mello Breyner
Andresen ; il. Fernanda Fragateiro. Porto : Porto Editora.
Imagem: Copyright – Fernanda Fragateiro.
Imagem: Copyright – Fernanda Fragateiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário