Um duro Atlântico, turvamente verde, com as quatro fileiras de ondas da maré alta sacudindo e desenrolando as crinas de espuma. Ou, às horas de maré vaza, o extático mar transparente, detido entre rochedos escuros, onde as anémonas eram como pupilas deslumbradas e videntes.
Dos banhos nas manhãs de maré alta, saíamos entontecidos e um tanto exaltados. Seguíamos com atenção o inchar de cada onda, pois éramos arrastados à rola se não mergulhávamos a tempo. O espraiar da água enrolava à volta das nossas pernas longas algas verdes, achatadas como fitas. A rebentação criava em nossa volta um halo de bruma e tumulto e habitávamos o interior dos pulmões da maresia.
Atrás de nós, e um passo atrás da orla da vaga, e recuando um passo quando a vaga subia, estava um povo de mestras, criadas e familiares que nos faziam sinais que não víamos e nos gritavam ordens e avisos que não ouvíamos.
"Era uma vez uma praia Atlântica", in Um duro Atlântico. Quatro contos dispersos. Porto: Porto Editora: 2012.
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