Ela despertou também.
(agora me lembro melhor,
E creio que lembro bem,
Que ainda a lua lá estava
Quando a abóbora-menina
Abriu, com muito cuidado,
A portada da janela
Que dá para o lado do prado)
Ao espelho se foi ver
E rápida sem mais demoras,
Lavou o rosto redondo
Com água da chuva e, com amoras,
Pintou os lábios rosados,
Que logo ficaram vermelhos.
Penteou as longas tranças
E perfumou o pescoço
Com cheirinho de esperanças.
Esteve nisto a manhã toda
E quando se sentiu pronta:
Pôs o vestido de seda,
Deu um laço numa ponta
E foi debruçar-se à janela...
Muitas horas se passaram
E o dia chegava ao fim
Quando a abóbora-menina
Adormeceu no varandim.
Quando acordou, já tarde,
Deu-lhe então para suspirar:
- Pois... se não há abóbora-meninos
Com quem é que eu vou casar?"
"Abóbora-menina", in Poemas da hora e outros poemas / Manuela Leitão; il. Maria Monteiro.
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