Não sei se faz sentido falar dos Açores como de ilhas perfeitas; mas nelas mora um povo que descende de toda a memória portuguesa, e cuja experiência de insularidade lhe confere uma identidade anímica e cultural muito própria. Ela vem tanto da história dos séculos e do povoamento, como dos seus mitos de sempre: a solidão marítima e a visão da ilha em frente, a unidade e a diversidade de uma paisagem em confronto ou em síntese de grandeza, o tempo que entra na alma, a fé numa eternidade feita à medida de cada homem.
Não há terras mais belas, em todo o território português, do que as dos Açores. Nem em nenhum outro país europeu. Os campos são ainda mais exuberantes do que o verde Minho ou a Irlanda; as lagoas, mais lendárias e sobrenaturais do que as da Escócia ou os mil lagos finlandeses; a arquitectura da paisagem, que sobe da costa até ao interior em grandes e caprichosos arcos montanhosos, nada fica a dver às alturas de montanha que movem e encantam o olhar da Europa - isto dizem-no os próprios europeus que para ali viajam.
Mas as paisagens não existem sozinhas. Os olhos, sim. O nosso modo de ver o arquipélago pode constituir um trabalho ou ou prazer. Os Açores serão sempre uma aventura para a alma e um deslumbramento para o olhar.
Açores, o segredo das ilhas / João de Melo. Alfragide: D.Quixote, 2016.
Imagem: Ilha de são Miguel, Açores.
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