terça-feira, 3 de novembro de 2020

Minutos de leitura

 

"Da ideia à prática foi um salto de pulguinha velha. Arranjei uma prancha de madeira e toc, toc, toc, toca o búzio com jeito e força na esperança de ver surgir o habitante da concha, ou o que quer que fosse.
Nada aconteceu. O búzio parecia desoladoramente vazio.

-Ah, sim?! Então ele é isso? Tu não tebs nada lá dentro? Já vais ver o que te faço...
Furioso, fui buscar um martelão e preparava-me para escavacar a concha quando algo extraordinariamente aconteceu.
A princípio fiquei desorientado. Pensei na campainha da porta de entrada, no telefone, mas não podia ser, na minha casa não há telefone e a campainha da porta não funciona.

"Trrriiiim!»

Não havia dúvida, o som vinha de dentro do búzio. À força de tanto beliscar a perna para me certificar de que não estava a sonhar até fiquei com uma negra azulada.

"Trrriiiim!»

- Está lá, quem fala?
- Daqui é Bilal, guarda-mor e cronista da cidade de Nacar.
Fiquei tão assarpantado que até me esqueci de que estava a falar ao telefone através de um... búzio!

- Eu não conheço essa cidade, Sr. Bilal. Pode indicar-me a sua situação no mapa?
Recordo que nesse momento a voz hesitou, houve um momento de silêncio, após o que acrescentou:

- Nacar é uma cidade situada algures no mar profundo.
- Cidade?!... Mar profundo? Não posso acreditar?

Então a voz tornou-se mais segura e proferiu palavras que nunca mais esqueci:
- Se quiseres desvendar os segredos de Nacar vai hoje à noite à praia, trepa ao penedo do lobisomen e quando a lua cheia transformar o mar em prata algo irá acontecer. Não te esqueças de levar o búzio.
'Click!'"

O Búzio de Nacar / Carlos Correia; il. Henrique Cayatte. Alfragide: Caminho, 1986.
Imagem: Copyright: sem identificação na web

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