segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Minutos de leitura

Era manhã e 

o novo sol salpicava de dourado as ondas de um mar calmo.
   A dois quilómetros da costa, um barco de pesca lançava iso à água e o chamamento para o Bando do Pequeno-almoço espalhou-se pelo ar, até uma multidão de mil gaivotas chegar para disputar os pedaços de comida. Era o início de outro dia atarefado.
   Mas, a grande distância, sozinho e muito para lá do barco e da costa, Fernão Capelo Gaivota estava a praticar. A trinta metros de altitude, no céu, ele baixou a s patas com membranas, elevou o bico e esforçou-se para continuar a virar, com uma difícil e dolorosa torção das asas. A curva permitiu-lhe voar mais devagar e, então, ele abrandou até o vento lhe tocar o rosto como um sussurro, até o oceano ficar imóvel debaixo dele. Semicerrou os olhos, numa concentração intensa, suspendeu a respiração, forçou mais,,, dois... centímetros... de... curva... E então as suas penas agitaram-se, ele parou e caiu.
   Como sabem, as gaivotas nunca hesitam, nunca param. Atrapalharem-se no ar é para elas uma vergonha e uma desonra. Mas Fernão Capelo gaivota não era um pássaro normal. Sem se sentir envergonhado, estendeu as asas outra vez para aquela curva difícil que lhe fazia estremecer o corpo e desacelerou, desacelerou até parar novamente.
 
Fernão Capelo Gaivota / Richard Bach. Alfragide: Lua de Papel, 2018. 
Ilustração: Copyright - Arthur Grosset

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