sentaram-se à minha sombra,
beijaram-se à minha sombra
e até tatuaram o meu corpo
com nomes, datas, corações.
Outros leram-me, sorriram
e alguns se acercaram do meu tronco
para ouvir a euforia dos pardais.
Agora a névoa arde, como arde,
nos meus ramos despidos, sufocados.
Agora sou uma estátua provisória
atacada por um mal que não conheço
nesta praça envolta em fumo e em ruído,
e o ar doente da cidade
pesa como chumbo sobre mim.
Arrancaram e levaram (para onde?)
os meus velhos companheiros de infortúnio;
como eles sou madeira sem valia,
apenas uma sombra dispensável -
e as aves, como folhas no Outono,
desertaram para sempre dos meus ramos.
"Lamento do último plátano de uma velha praça do Porto", in Guardador de árvores. Porto: Trampolim, 2009.
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