A Civilização Grega - o belo como representação (VI)
A
harmonia é um dos conceitos que nos permite compreender a representação do belo
na civilização grega. O conceito de harmonia é distinto conforme o período,
pois dos pitagóricos a Heráclito, de Policleto a Vitrúvio a evolução do
conceito permitiu construir uma ideia de belo. Para os primeiros pitagóricos a
harmonia fundava-se numa oposição. Oposição entre
par e ímpar, ou masculino e feminino, ou unidade e múltiplo. Desta oposição
apenas uma realidade poderia assumir a perfeição. O ímpar, a recta, o quadrado
assumem um lado de bom e de belo e os seus contrários assumem o erro, a
desarmonia.
Heráclito faz uma evolução desta ideia dos pitagóricos e assume que se o real vive um conflito entre unidade e multiplicidade importa viver dentro de uma tensão que é a da própria realidade. O conceito de harmonia em Heráclito é feito não da ausência do que está em desarmonia, mas do todo e do seu equilíbrio. Os pitagóricos do século IV a.C., integrarão as ideias de Heráclito.
Assim no período mais florescente da Grécia clássica a harmonia é construída como um equilíbrio entre entidades opostas. Entidades que se anulam uma à outra e que de uma evidente contradição nasceria uma harmonia fundada no conceito de simetria. A Grécia clássica assume o valor da simetria dentro do conceito de harmonia instaurando um cânone que define o belo.
No século IV a.C., Policleto e a sua estatuária impõe esse valor do
cânone, onde se encontram presentes aos valores das proporções no sentido
geométrico. É a proporção o seu valor mais relevante, não o equilíbrio das
partes. Vitrúvio mais tarde definirá a proporção exacta das representações do
corpo. A representação do belo na escultura não segue uma unidade fixa, mas
impõe um sentido orgânico. Os elementos do corpo devem estar adaptados ao movimento
do corpo, à sua representação, à perspectiva, ao ângulo do espectador. Para
Vetrúvio importa distinguir a proporção que representa uma técnica de simetria,
da euritmia que faz a adaptação das proporções àquilo que a visão vai observar.
Imagem: Doríforo , cópia do original de Policleto, 450 a.C., Museu Nacional Arqueológico de Nápoles
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