A Civilização Grega - o belo como representação (I)
Hoje e há algumas décadas deixámos de lhe dar atenção. Mas a sua representação foi durante séculos uma forma de aprimoramento por uma ideia que tivesse na sociedade tanta substância como a verdade ou a justiça. Durante muito tempo a sua representação edificou valores, pensamentos, formas de estudo, técnicas artísticas e formas de ver o nosso lugar na vida e no Universo. Falamos do belo e da sua representação.
Mais do que as estátuas, os templos, ou as cidades foi esse ideal que criou uma possibilidade daquelas serem criadas e tornou possível a sua própria materialidade. Esse ideal de belo é uma imensa dádiva da Civilização Grega para muitos séculos que se seguiram e permitiu renovações do pensamento, da cultura, da dimensão humana em diferentes sociedades. Os gregos deixaram a sua voz no futuro, mesmo naquele que nós já não viveremos; deixaram a sua inspiração para o possível de novas ideias.
Antes de falar do belo como representação importa colocar uma questão prévia. Quando pensamos em belo vem-nos à
mente tudo o que envolve a vida humana. E há nela uma ideia relativa da sociedade e da cultura. O que hoje achamos belo amanhã muda de sentido, pois os
códigos de beleza alteram-se. E, no entanto ao olharmos para a Vénus de Milo,
ou o Discóbolo de Mirone, expressões da arte grega encontramos ali uma representação de algo que achamos bonito, algo como uma representação substantiva
de belo.
Às vezes olhamos, gostamos e não compreendemos. Não percebemos, mas achamos bonito. Em muitas circunstâncias
o belo talvez seja não só o que ultrapassa a compreensão, ou que está para além dela,
mas que é um encontro com algo de maravilhoso e que se possivelmente se mantenha na incompreensão. Visitar um templo, ou ver um quadro, ou admirar uma paisagem provoca-nos sentidos diferentes, mas achamos tais observações belas. E, todavia
compreendemos a sua funcionalidade?
Desde os Gregos que a ideia de belo evoluiu. A sabedoria foi
a primeira forma de belo, foi nas palavras dos poetas que ela primeiro se
definiu, com o que conhecemos da obra de Homero e Hesíodo. O belo relaciona-se
com essa dimensão essencial de todos, a vida ainda. Como a podemos
alimentar? Com que palavras? Com que sabedoria habitaremos a vida e a sua
essência, o seu coração?
Parece pois essencial ter
algum pensamento, descobrir nela uma sabedoria para a construir, para a
edificar. Os gregos tinham uma ideia para isso e vale a pena conhecê-la no que será a última abordagem nestas últimas duas semanas, sobre essa construção inteligível da vida, a que o belo e a sua representação se encontram associados.
Imagem: Friso do Pártenon
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