Se a pintura rupestre iniciou uma forma de escrever o mistério sobre os contornos da sobrevivência e se ela foi tão expressiva é curioso que muitos séculos passariam até que a pintura assumisse a qualidade expressiva do Paleolítico. Nas civilizações do Mundo antigo , a civilização nascida à beira do Nilo foi uma das mais importantes. Tal como a arquitectura, a pintura foi uma das actividades artísticas mais importantes da Civilização Egípcia.
É interessante verificar que entre o Paleolítico e as pinturas rupestres até a esta civilização, a pintura não teve grande significado. A pintura na Civilização Egípcia serviu o mesmo objectivo da arquitectura, isto é dar conteúdo e contexto aos templos, palácios e túmulos. A utilização da pintura para efeitos do sagrado justificava-se com a ideia de que terminando a vida terrestre com a morte, era preciso construir uma outra dimensão. Dimensão que no casos dos Reis, Faraós e Sacerdotes podia-se prolongar se existisse uma marca da passagem pela vida.
A vida na ideia da Civilização
Egípcia tinha uma “essência eterna”, o que levou a que a arte na
pintura tentasse transmitir algo que não mudaria, apenas se
transformaria num plano diverso. As representações aparecem com a
cabeça e os pés de perfil e o resto do corpo de frente, assim como as
cores contrastavam com os fundos brancos, o que produzia um efeito muito
particular.
Na civilização Egípcia ao contrário do que se verificará mais tarde, utilizava-se sobretudo a técnica do fresco secco,
que consistia em aplicar a têmpera (conjunto formado pelos pigmentos
ou corantes misturados com materiais como a areia e água) no estuque já
seco. Toda a pintura da Civilização Egípcia se assemelha na forma,
pois era uma arte muito intelectualizada, isto é construída para
obedecer às hierarquias sociais e às marcas culturais. A apresentação
dos olhos para o lado e as representações do resto do corpo eliminavam a
ideia de perspectiva e davam às figuras uma aparência de duas
dimensões (bidimensional).
As imagens da pintura desta civilização eram idealizadas com diferentes representações, de acordo com a importância na própria sociedade. Os “Gansos de Medum” são um dos frescos encontrados no túmulo de Nefermaat e é anterior ao século XX a.C. e anunciam o que os anos posteriores criariam ao nível da escultura. Na civilização egípcia existiram frisos cerimoniosos e frisos em ambientes domésticos. Os frisos e a arte egípcia foi construída sobre a base de uma idealização em que a “essência eterna” formulava a própria realidade.
A arte e a pintura organizava uma hierarquia social, onde a
padronização das formas anunciava uma forma indiferente a elementos
externos, o que a tornava muito rígida nos seus padrões. A representação
em formato bidimensional, sem perspectiva na representação da cabeça
humana salientava esse formalismo e essa idealização para um eterno,
como forma de compreensão da vida humana. As pinturas nos diferentes
espaços não são mais do que essa tentativa de tornar o real vivido, como
eterno. Toda a arte na civilização egípcia é uma viagem para esse
eterno.
Imagem_ Civilização Egípcia - “Gansos de Medum”, c. 2530 a. C.
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