quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Entrevista (X)


                                    Entrevista a Goreti Pereira, Capitã da Força Aérea  

 

 

 

 Num mundo onde cada vez mais as mulheres têm um papel importante na sociedade e ocupam cargos de poder e liderança, uma outra realidade contrasta brutalmente, a situação atual do Afeganistão, onde os direitos das mulheres são completamente anulados. Nesse sentido, a Capitão da Força Aérea Goreti Pereira, natural de S. Paio de Antas – Esposende, teve a gentileza de nos dar o seu testemunho, tão enriquecedor, de como é ser uma mulher realizada profissionalmente num universo maioritariamente masculino.

 

- Qual o motivo que te levou a seguir a vida de militar?

- Desde miúda que queria ser hospedeira de bordo, gostava muito de aviões, das fardas e deve ter sido por isso. Como não consegui ser hospedeira, mas também não tentei, segui pela carreira militar.

 - Há quantos anos és militar? 

- Eu sou militar desde fevereiro de 1995, ou seja há 26 anos.

 - Que cargo ocupas hoje na Força Aérea? 

- Neste momento tenho o posto de Capitão. Já tenho o curso de promoção a Major, espero que durante o decorrer do próximo ano ser promovida a Major. A minha função neste momento é ser Adjunto do J7, que ajuda a planear exercícios. 

 - Alguma vez sentiste preconceito ou qualquer tipo de obstáculo por seres uma mulher numa profissão maioritariamente masculina? 

- Eu acho que tive muita, muita sorte, nunca senti isso diretamente, e já lá vão 26 anos. Mas também reconheço que temos de ter um comportamento muito correto sempre, porque se damos um bocadinho de azo perdemos essa confiança e vai ser muito mais difícil de recuperar, mas com toda a certeza nunca sofri diretamente nenhum tipo de preconceito.

 - O que te levou a fazeres uma missão na República Centro Africana?

- -Ora aí está uma pergunta que não é muito fácil de responder. Porque nunca tive a oportunidade de fazer uma missão no estrangeiro, e era uma função que eu achava que me faltava como militar. Quando apareceu esta situação para fazer, disse: porque não? Estive a analisar a minha situação familiar, achei que neste momento seria possível, a minha família concordou e fui.

 - Fala-me um pouco dessa experiência? 

- Outra pergunta difícil Constança (risos). A experiência foi muito interessante. Eu fui para a área de formação de comunicações, que é a minha especialidade, e foi muito interessante explicar as comunicações aos formadores, e aos formandos que eles têm. Eu já tinha feito essa função cá em Portugal, a Praças, Sargentos e Oficiais, e lá foi só quase a Praças e Sargentos e é um desafio completamente diferente, é uma perspetiva de vida, de missão, que eles têm que nós não temos aqui. Por isso foi um desafio muito grande, gostei muito, e eu penso que eles também gostaram um bocadinho de mim (risos), posso-te mostrar algumas fotografias depois, se quiseres ver. O que me marcou mais foi mesmo essa perspetiva que eles têm da vida que é completamente diferente da nossa, e eu estar-te a contar isto aqui é uma coisa, estar a viver lá, é completamente diferente. Por exemplo, no nosso fardamento, nós temos um cuidado de estarmos sempre impecáveis, fardamento todo igual, eles não conseguem, não têm. Às vezes tem um par de botas de uma nacionalidade, as calças de outra, mas vem limpos e tem esse cuidado, têm brio, não têm é os meios. 

- Quais são os teus projetos para o teu futuro profissional? 

- Gostava de ser colocada numa unidade mais a norte para estar um bocadinho mais perto de casa, como fui colocada nesta função, no mínimo 2 anos vou ficar por Lisboa. Quando subir a major, são mais seis anos para chegar a Tenente-Coronel.

 - Que conselho darias aos pré-adolescentes como eu, que se estão a preparar para o futuro? 

- Eu recomendo, a pensar um bocadinho no que fazem as forças armadas. Não quer dizer que já tenham de gostar de ser militar, mas investigar, para ter como opção as forças armadas como início de carreira, que foi o que eu fiz, e acho que correu muito bem, acabei por ficar nos quadros da Força Aérea. No entanto, tenho muitos colegas que saíram e são excelentes profissionais, as forças armadas permitem uma formação específica para uma área de trabalho, e permite de seguida executar esse trabalho que estudou e já dá à pessoa uma hipótese de saber o que quer fazer da vida, sobretudo jovens com 17, 18 e 20 anos, às vezes ainda não sabem o que querem, e ali já começam a ver o que gostam e o que não gostam.  

- Muito obrigada, Capitã, Goreti Pereira, pelo teu testemunho tão inspirador, oxalá muitos jovens se sintam motivados como eu fiquei após a nossa conversa.

 - Foi uma honra e o facto de seres minha prima só aumenta o meu orgulho.

Constança Capitão, 5ºFB

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