segunda-feira, 8 de novembro de 2021

O escritor do mês

 


"Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito da verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê a espantosa beleza do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo (...) somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser." (1)

É uma das grandes figuras da cultura europeia e mundial, do século passado e de todos. Nasceu no Porto a seis de Novembro de 1919, onde passou a sua infância. Mais tarde mudou-se para Lisboa, onde fez os seus estudos universitários entre 1936 e 1939. Publicou os seus primeiros poemas em 1940, nos Cadernos de Poesia. Foi uma defensora dos direitos civis dos presos políticos durante o Estado Novo.

A sua luz é clara e transparente como as manhãs nascidas de um tempo novo, não o da dimensão política, não o da pequena ambição pelo cargo, pela nomeação, pelo lucro rápido e incolor. Apenas e só a que procura dialogar consigo próprio, a da manhã branca, onde a claridade emerge de um dia alvo, desenhado e vivido das possibilidades que o real concede. As suas palavras deram-nos uma estética do maravilhoso, num compromisso autêntico, livre e sublime, com a respiração que nos faz ser herdeiros da maior inteireza.

Conduziu-nos pela maresia, falou-nos dessa primeira liberdade, correu com o vento para que também nós sentíssemos a questão inicial, o sopro da palavra comprometida. Nela encontramos um coração de nobreza e as suas palavras que são sempre novas todos os dias. 
Escreveu diversos livros de poesia que se encontram publicados autonomamente na sua obra poética. Podemos destacar Livro Sexto, Navegações, Coral, No Tempo Dividido ou O Nome das Coisas. Em 2011 para assinalar a exposição internacional que decorreu na BN foram juntos alguns textos não conhecidos e agrupada toda a sua poesia num volume imenso de palavras e descobertas.

Destacou-se ainda na escrita para crianças em livros como A Fada Oriana, O Rapaz de Bronze, A Árvore ou A Floresta. Traduziu autores diversos, como Shakespeare ou Eurípedes. Escreveu ensaios, da terra das casas brancas no azul do Mediterrâneo, de que tanto gostava. Recebeu ao longo da sua vida vários prémios, como o Prémio Camões 1999 ou o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana em 2003. 

Sophia, deu-nos uma escrita de grande beleza, preocupada com os limites da existência humana, onde encontramos a simplicidade e o encontro com a Natureza, em especial o mar. Influenciada pela cultura grega, por esse mar de casas brancas, onde o sonho, a descoberta de novos horizontes está sempre presente. 

Com Sophia encontramos o deslumbramento pela palavra, onde a sensibilidade e a pureza tenta encontrar campos e horizontes de felicidade. As musas do mundo grego que tanto a inspiraram deram-nos nas suas palavras uma nova dimensão para o homem. Com Sophia a palavra tem contornos de magia por onde a dimensão humana se afirma acima de qualquer tempo. Com Sophia encontramos um deslumbramento permanente:

" (...) mostrai-me as anémonas, as medusas e os corais 
        Do fundo do mar
        Eu nasci há um instante." (2)
                                 
(1) Sophia, "Posfácio", In Livro Sexto / Sophia de Mello Breyner Andresen ; pref. Manuel Gusmão. - 1ª ed. Porto : Assírio & Alvim, 2013. - 113, [6] p. ; 21 cm. - (Obras de Sophia de Mello Breyner Andresen). ISBN 978-972-37-1783-9

(2) Sophia, "Gráfico", in Coral / Sophia de Mello Breyner Andresen ; pref. Gustavo Rubim. - 1ª ed. Porto : Assírio & Alvim, 2014. - 100, [11] p. ; 21 cm. - (Obras de Sophia de Mello Breyner Andresen). ISBN 978-972-37-1702-2

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