terça-feira, 16 de novembro de 2021

Saramago - A substância das palavras (I)

 

«Não me peçam razões, que as não tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

 
Não me peçam razões por que se entenda
A força da maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não o aceito.

 
Não me peçam razões, ou que as desculpe;
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor da Primavera que há-de vir
.» (1)

 (1) José Saramago, «Não me peçam razões» ,in Os Poemas Possíveis.

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