sexta-feira, 4 de março de 2022

A pintura gótica (III)

 


A pintura gótica tem em Giotto um marco essencial. Na verdade, existe neste artista o reconhecimento de que a pintura no ocidente tem em Giotto um marco fundador e transformador do que se seguiria. Em Giotto a influência da arte bizantina já não se constitui como uma influência, mas apenas como um elemento do passado que foi amplamente transformado. 

Giotto, de nome Giotto di Bondone foi contemporâneo de Ducio, tendo assim vivido entre os séculos XIII e XIV.  Com o Giotto o espaço de representação muda e as figuras apresentam-se a uma escala maior, a que se ajusta aos espaços dos edifícios e é um marco na pintura. A arte gótica atinge na pintura uma expressão máxima com Giotto. Verificamos a existência de "uma personalidade criadora" (Michael Levey), embora só no renascimento essa abordagem se torne mais difundida. Giotto não vivei no renascimento, mas ele é a porta de entrada na pintura para esse período. Giotto vive ainda na arte gótica, mas prepara já outra época. 

Em Giotto e nesse período mais alto da pintura gótica verificamos uma graciosidade dos valores espirituais representados e uma atmosfera de jovialidade e de beleza que impressionam. O mundo linear dos seus antecessores é substituído por uma representação com mais volume e de maior substância, de maior vivacidade nos elementos. O mundo real assume uma importância muito significativa e as formas naturais são vistas como uma das linhas mais importantes da pintura. 

Giotto foi muito influenciado pelo naturalismo romano de Pietro Cavallini e sobretudo por Nicola e Giovanni Pisano, pintores naturais da Toscânia, a província onde Giotto nasceu. Com Pisano Giotto aprendeu o valor das formas representadas de um modo mais substantivo, mais afirmativo e o individualismo nas próprias formas. Claridade e luz ficaram como ideias de Pisano para Giotto. A rigidez da arte bizantina desaparece. Giotto pintou painéis e frescos.

Os painéis embora de tamanho mais reduzido que os frescos, há neles como que uma vontade de transcendência expressa nas formas e nas cores. O painel Nossa Senhora e o Menino, pintado entre 1320 2e 1330 dá-nos uma representação com um significado de humanidade que nos convoca para a sua real dimensão. Ela é representada, como se fosse maior, nos seus aspetos humanos e fá-lo com uma evidente ternura e uma dignidade assombrosas.  O Menino, ele próprio transmite uma áurea de realeza, pois o braço da mãe funciona quase como um trono. Todo o conjunto nos interpela, não nos afasta, aproxima-nos dessa humanidade das figuras representadas.

Nossa Senhora e o Menino / Giotto, 1320/1330. Galeria Nacional de Arte, Washington.

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