"A beleza é o rosto mais jubiloso da verdade. Não da
própria verdade, mas do seu rosto". (1)
Tinha uma paixão pelo Winnie the Pooh. Olhava para a literatura
infantil como a possibilidade de reencontrar o olhar inicial, o que está pronto
para a linguagem do mundo, ainda sem o conhecer. Revelou uma curiosidade para
traçar pela poesia um olhar sobre o real, natural em si, mesmo que dele se
desprendessem valores filosóficos inerentes à natureza humana.
Refletiu sobre a sociedade em que viveu com liberdade, com
inteligência e com criatividade. Deu-nos no JN um conjunto de crónicas sobre
esse real que se sonha e que não se compreende pela ausência de uma real
interrogação de figuras e instituições sobre os valores básicos do que os
gregos chamaram "Humanitas, Libertas, Felicitas".
Foi um cronista que ousou utilizar as palavras para discutir "as
verdades" que o establishent político gosta de enumerar como os pilares do
universo, por onde interesses privados se alimentam da destruição mais básica
dos valores de dignidade de tantos.
E foi um poeta. Um poeta que nos descreveu como nos orientamos com os
mitos, como respiramos o real, entre os lugares e as suas sombras, por onde
tentamos reconhecer os gestos. Sempre que vivemos com um poeta, temos o convívio
das palavras e desse timbre de voz, onde permanecem a memória e o coração das ideias,
emoções, onde o sorriso nos guardará desse "dragão feroz" que é o
próprio tempo.
Manuel António Pina é o escritor do mês na biblioteca. Dele destacaremos algumas das suas produções literárias e daremos voz com as suas palavras a algumas iniciativas de leitura. É uma figura que vale muito a pena descobrir. A verdade é que vivemos em corredores pouco iluminados, pois a memória não é um valor muito incentivado. Manuel António Pina foi uma dessas vozes com que ficamos mais "ricos" com o conhecimento das suas palavras e de um modo de ser grandioso e fraterno.
(2) Ana Maria Matute, Paraíso Inabitado
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