"Não são as pessoas que fazem as viagens mas sim as viagens que fazem as pessoas." (1)
A diversidade contempla-nos. O mundo é imensamente diverso, variado, diferente e é nele que nos reconhecemos. A identificação com ele, a nomeação das coisas foi-nos atribuída pelo uso de algo que nos faz reconhecer a nossa própria identidade. A saber, a linguagem. Na formação do mundo, em Génesis é o criador que indica ao primeiro ser que dê nomes às coisas, para que entenda o que elas significam. Há assim uma relação direta entre as palavras que usamos e o mundo que habitamos.
A própria vida é ela uma viagem, no sentido de uma descoberta e da construção de uma relação. A viagem é feita de diversos modos, caminhando, escutando, observando, mas também lendo. O mundo acaba por ser a nossa leitura. Pela leitura descobrem-se janelas, que alargam horizontes, que nos revelam coisas, lugares, emoções que desconhecíamos. A palavra e o mundo é um modo de registar de modo diverso essa leitura com as palavras e com a experiência de cada um.
A identificação do mundo em cada um pela linguagem revela-nos que na viagem vivida, sonhada, pensada, ou decifrada há sempre a procura de uma sabedoria que se revela no reconhecimento do outro. Essa sabedoria é uma forma de iluminar caminhos e de construir afetos. Os livros e as palavras podem ser usados nesses caminhos. a palavra e o mundo é um pouco isso o que procura realizar com a participação das leituras de cada um, das escritas que cada um puder partilhar.
A palavra e o mundo é a designação que escolhemos para a etiqueta que organizará um conjunto de propostas de leitura, exploração de temáticas à volta de uma ideia chave, o livro e a viagem, cada um de nós e o mundo. A viagem dentro do livro, aquela que nos permite transformar um sentido, uma forma de ver o mundo, de nele escrever o que tentamos ser. A viagem como descoberta, entre as suas dimensões físicas e espirituais. Ler, mas também saber compreender o mundo dessas palavras, o que ele revela.
Reconhecer os outros e o seu mundo é ir ao encontro de diversas culturas, de diferentes cores, de ver a vida na sua diversidade. Essa diversidade é construída pela viagem, pois é ela que nos faz ver o traçado mais importante da geografia, é ela que nos faz descobrir os poemas do planeta, em cada recolha de mar, sal e pó. É a viagem que nos organiza, nos identifica e é nela que a variedade do mundo nos recria de originalidade. A linguagem tenta dar corpo a essa originalidade.
Em cada mês as propostas de um livro são ideias para construir a viagem nas suas diferentes dimensões. O projeto Rotas do Oceano integra-se aqui pela diversidade do natural e do património histórico e cultural. Descobrir essa diversidade geográfica com os mares, os oceanos e a utilização humana numa visão histórica e de sustentabilidade. Descobrir também os percursos interiores que as palavras fazem nascer dentro das suas linhas. A viagem também como como forma de aprendizagem, pois é nela que podemos compreender a beleza do planeta, a sua diversidade, o belo entre os momentos de imperfeição de que é composta a vida.
(1) John Steinbeck, citado do prefácio de Gonçalo Cadilhe, Um lugar dentro de nós. (2012). Lisboa: Clube do Autor.
Imagem: Copyrighjt - Nas margens do rio Neiva, (Visitesposende.com)
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