quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Um filme - Ben - Hur (II)

 

Diálogo na guarnição romana de Jerusalém:

"- Qual a dificuldade em controlar a revolta dos judeus, de prender os agitadores?
-  É o que fazemos. Mas como se combate uma ideia? Os que anunciam um salvador dizem que a divindade pode estar em cada homem.
- Disparates! A divindade só existe num homem, o Imperador de Roma!" (do Guião do Filme)

Ben-Hur, proposta de visionamento na Biblioteca para este mês dá-nos um quadro de uma civilização em choque com ela, com as suas próprias limitações de poder e ambição sobre os povos dominados. Um acidente com o governador da Judeia conduz Judah para as galés romanas no Mediterrâneo. A racionalidade romana e a emotividade de uma crença no valor de uma memória para o futuro entram em confronto. Judah será adotado por Quentius Arrius e ganhará a liberdade. Voltará ele ao seu povo ou permanecerá entre a glória conquistada em Roma?

Ben-Hur é um filme épico que retrata a sociedade da Palestina, nos primeiros anos da era cristã, sobre domínio da civilização romana. Todo o filme é o retrato do tratamento desumano como escravo, sofrido por Judah e o seu regresso a Jerusalém, para cumprir a sua vingança. Nele vemos o modo de vida na Judeia e como diferentes grupos humanos se posicionavam perante Roma. 

Conhecemos a vida em Roma, o modo como os romanos impunham o seu poder no Mediterrâneo e compreendemos as hierarquias de poder entre o imperador e as províncias romanas. A vingança de Judah sobre Messala dar-lhe-á o acesso à figura de Jesus e à redenção por uma vida mais humilde. Ben-Hur coloca em questão questões muito importantes sobre a vida, a fé e o relacionamento entre culturas diversas.

O grande valor pedagógico do filme é dar-nos o modo de vida quotidiano e institucional do que foi uma civilização na sua afirmação cultural e material. Cruzando-se com a história de Jesus, a história de Judah é de uma redenção criada sobre o valor da vida humana, sobre essa possibilidade aberta para a dignidade de todos os possíveis. E, se é verdade que ela teve muitas intermitências, do que os nossos dias ainda testemunham, essa capacidade de cada um ser algo tão "divino", pelo seu significado é uma grande lição de futuro. É nesse "divino" que residem as pedras que constroem os arcos majestosos das grandes construções de tempos diversos.

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