"Numa escura e fresca gruta do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros viviam três grandes famílias de morcegos: os Morcegos Lanudos, os Morcegos de Ferradura Grande e os Morcegos de Franja.
Ali morava o Ferradura, o mais ilustre e respeitado de todos os morcegos daquela comunidade. Não por ser o chefe, mas por ser sábio. Mais do que com as mãos, os pequenos morcegos aprendiam com o Ferradura a voar, a caçar mosquitos, a utilizar o sonar, a ver na escuridão, a cheirar como ninguém, a cuidar da sua pelagem e até a escutar histórias.
Como o Ferradura todos aprenderam que os morcegos são o único mamífero que voa sem fazer batota. Com ele ficaram a saber que na China a sua espécie simboliza sorte, saúde, riqueza, vida longa e tranquilidade.
Mas nunca alguém se perguntara de onde viria tanta sabedoria até ao dia e que Franjinhas, um jovem irrequieto da família dos Morcegos de Franja, atrevidamente perguntou:
- Onde foste buscar tanta sabedoria? Eu também gostaria de conhecer as coisas fantásticas de que falas.
O Ferradura sorriu e disse:
- Isso é uma história com muitos capítulos e muitas peripécias.
- Conta, conta! - pediram o Franjinhas e todos os outros jovens morcegos.
O Ferradura contou:
- Antes de morar convosco nesta gruta, vivi e trabalhei num palácio.
- Num palácio! - exclamaram os jovens morcegos.
- O que faz um morcego, como nós, num palácio? - perguntou o Franjinhas.
- Nesse palácio, onde vivam os reis, foi instalada uma grande biblioteca, com mais de trinta mil livros. Há cerca de duzentos anos os meus antepassados começaram a trabalhar nela. Eu sou descendente de uma ilustre família de bibliotecários.
O que o Ferradura contava era uma novidade maravilhosa. Nenhum dos jovens imaginara que os morcegos pudessem trabalhar em tão admirável lugar.
- Então os morcegos não estragavam os livros das bibliotecas? - perguntou o Franjinhas.
O Ferradura explicou que não. que o seu trabalho no palácio era cuidar da biblioteca e por isso mesmo também dos livros.
- Mas como fazias isso?
- É muito simples: o meu trabalho consistia em comer o maior número de insetos possível."
O morcego bibliotecário / Carmen Zita Ferreira; il. Paulo Galindro. Lisboa: Trinta por uma linha.
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