terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

O escritor do mês - Luís Sepúlveda

 


Às vezes, os excessos de submissão diante do poderoso ativam os mecanismos de resistência que dignificam a pessoa humana” - Luís Sepúlveda, Últimas Notícias do Sul. 

Luís Sepúlveda é um dos grandes escritores da América Latina e tem uma obra interessante e rica em memória daquilo que o move como cidadão. De estudante do Maio chileno de 69, a companheiro e guarda pessoal de Salvador Allende, a guerrilheiro na Nicarágua, a preso político, a ativista da Amnistia Internacional, o escritor tem tido uma vida cheia de experiências, emoções e de recordações de um tempo histórico violento, mas rico em vivências.

A sua obra é um testemunho de uma estética que procura na vida construir uma ética sobre os valores humanos e sobre os sonhos de minorias e especialmente sobre um território que é o Chile. A Patagónia, imenso território que atravessa a Argentina e o Chile, tem um clima difícil, extremo, onde o vento e o gelo isolam os espaços desse território. É um dos últimos locais da Terra que envolve os aventureiros e os sonhadores pela viagem, pela descoberta, pela caminhada na respiração de pessoas e de uma cultura própria e não muito divulgada.

Território de lendas, sedutor nas possibilidades de descoberta, berço dos índios Pehuenches, Mapuches, Tehuelches, Onas e Yamanas, que foram sucessivamente dizimados pela civilização das armas e das doenças. Dotada de uma costa de difícil acesso, onde os ventos do Pacífico acostam com força, nela Magalhães também conheceu grandes dificuldades de navegação. 

Território ainda em estado selvagem, naquilo que este adjectivo tem de belo por estar mais perto da natureza inicial das coisas, foi tardiamente explorado e é em certo sentido indomável. A Patagónia é um território de dimensões continentais, com paisagens milenares, esculpidas pelos elementos naturais, é um santuário à evasão, dos que ainda acreditam que a natureza do homem reside, como dizia Pascal, “no movimento”. 

Encontramos na Patagónia os desenhos coloridos da estepe semidesértica, onde os Andes projetam as cores das baías azuladas, por lagos que fazem deslizar icebergues numa graciosidade selvagem. 

É nessa Patagónia dos pântanos rodeados de vulcões, das árvores desenhadas pelos elementos naturais, dos bosques e das praias de pinguins, que acedemos a uma das mais belas paisagens da Terra. Luís Sepúlveda dá-nos, nas suas páginas, as memórias de um território, os sonhos de pessoas que face aos elementos criaram uma cultura generosa de hospitalidade. Uma cultura em extinção e a sua particular respiração é o que Luís Sepúlveda nos oferece em livros fascinantes como Patagónia ExpressMundo do Fim do Mundo ou 
Últimas Notícias do Sul.

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