sexta-feira, 28 de outubro de 2022

O Renascimento | V

 


Florença foi uma cidade essencial no desenvolvimento do Renascimento na pintura, na escultura e na arquitetura. Depois de Masaccio, Sandro Botticelli surge como um dos pontos altos da escola, ou tradição florentina. Com Botticelli algo novo acontece na pintura do Renascimento, como as formas humanas, as suas linhas esguias e ondulantes. Botticelli foi muito influenciado pelo desenho dos irmãos Pollaiuolo que foram os primeiros a desenhar o corpo para o estudar nas suas estruturas.

Com Botticelli a ideia de dissecar o corpo, como o faziam os irmãos Pollaiuolo já não existe do mesmo modo, tendo evoluído para uma ideia mais apurada da perspetiva e da anatomia humana e relaciona-se com o que a corte dos Medici desenvolveram na sua visão do mundo. A ideia de amor no neoplatonismo da Corte dos Medici influenciou a pintura de Botticelli. Os quadros mitológicos de Botticelli são de um lirismo e de uma beleza impressionantes.

A Alegoria da Primavera, ou O Nascimento de Vénus são dois quadros em que os elementos clássicos são reajustados ao espírito da época e dos valores ou símbolos conhecidos no tempo. Em A Alegoria da Primavera, quadro de 1478, o trabalho destinava-se a ser colocado na residência dos Medici. É um dos quadros mais significativos da arte ocidental, onde as figuras se apresentam em tamanho natural, dando uma ideia de grande monumentalidade com a chegada das flores, símbolo da Primavera. O quadro fá-lo usando a mitologia dos valores clássicos.

No quadro as referências ao mundo clássico são muito evidentes, com a introdução de Vénus (divindade associada à Primavera) e dela parece emergir uma credibilização de toda a cena e dos outros elementos. O Cupido aparece sob as árvores apontando uma flecha às Três Graças que representam a beleza, a castidade a sensualidade e onde também surge Zéfiro, o conhecido vento da Primavera. 

No quadro encontramos ainda, em vestes escarlate, Mercúrio - deus mensageiro dos ventos e que na tradição clássica dissipava as nuvens de modo a permitir que os raios solares iluminassem o jardim. Todo o quadro é profundamente gracioso na junção das Três Graças, a deusa Flora e Vénus tornando-o um dos marcos do Renascimento. Os traços de feminilidade, graciosidade e delicadeza fazem dele uma obra maior da pintura europeia e do Renascimento.

Sandro Botticelli, Alegoria da Primavera, c. 1482, Galeria Ufizzi, Florença.

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