"O que é belo
há de ser eternamente uma alegria, e há de seguir presente. Não morre;
onde quer que a vida breve nos leve, há de nos dar um sono leve, cheio de
sonhos e de calmo alento." (1)
Uma atividade desenvolvida na disciplina de Educação Visual fez-nos pensar sobre uma ideia, um conceito, quase o que podemos chamar a nossa representação do mundo. O belo. Conceito secular construída pela Estética como disciplina, devolve-nos margens de pensamento ligado às ideias, à cultura, ao social e à representação das sociedades. Pode o belo ser uma alternativa à razão e é nesse sentido uma forma mais sensível de conhecer?
Nada mais difícil do que definir o belo, pois ele foi muitas coisas em diferentes épocas. Mas, ainda assim ele é uma forma que ao que agrada, ao que dá uma
satisfação capaz de um entusiasmo. O belo tem si as suas próprias formas de
beleza, ou somos nós como observadores a construir um conceito?
João Bénard da Costa (2) contava uma história
interessante, a de que uma criança ao ler excertos dos Lusíadas dizia, "Eu
não percebo nada disto, mas isto é tão bonito". E talvez que em muitas
circunstâncias o belo seja não só o que ultrapassa a compreensão, ou que está
para além dela, mas que o encontro com algo de maravilhoso seja a
incompreensão. A visita a um templo oriental, como o templo dourado em Kyoto
provoca um sentido diferente de percepção do espiritual, mas ainda assim
achamo-lo belo. E, todavia compreendemos a sua funcionalidade?
Não a percebemos e talvez seja isso que o belo
seja, o que não se percebe tão bem, ou se percebe menos e, justamente porque a
compreensão é do nível do mistério. Podemos visitar o Epidauro, conhecer as
características técnicas daquele espaço, mas a transcendência pode não nos
contemplar. E assim o que fazemos é o estudo da Estética, em que relacionamos a
a representação do belo com as ideias filosóficas de um tempo. E aqui temos
muitas possibilidades. O estudo da Arte no tempo é uma das fontes para olhar para esse fundo de universo, que somos todos nós.
Vincent Van Gogh inspirou alguns alunos do oitavo ano a ver a cor. Ele próprio tentou e, sabemos com que dificuldade se entregou à cor, para a representar como nunca ninguém a tinha visto. Ele próprio o confirmou numa carta a Théo, em 1891. Dizia Vincent, «Os ciprestes ocupam-me constantemente. (...) Nas linhas e nas
proporções são tão bonitos como um obelisco egípcio. E o verde é um tom fino
muito especial. É a mancha negra numa paisagem batida pelo sol, mas é um dos
mais interessantes tons negros; todavia, não, posso pensar em nenhum outro que
seja mais difícil de obter. Tem de se ver os ciprestes aqui contra o azul, para
dizer melhor, dentro do azul»
Em posts a publicar nos próximos dias daremos conta dessa imagem da cor vista pelos alunos.
Imagem: Vincent van Gogh, Seara sobre vento, Museu de Amesterdão.
(1) Kohn Keats. (1841).
"Endymion", in The poetical works of John Keats. London: William
Smith.
(2) João Benard da Costa, Ciclo de conferências
"Ecce Homo", Lisboa, Maio de 2007.
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