Neste mês dedicamos as palavras em destaque a dois poetas que são na sua vida marcados pelo mês de janeiro, justamente Miguel Torga e Eugénio de Andrade. Dois escritores que usaram dois pseudónimos para a criação de um minimalismo, de uma frugalidade existencial que procuraram dotar as palavras para uma veracidade sentida pela experiência de viver.
A dezassete de janeiro desaparecia fisicamente Miguel Torga, um dos mais importantes escritores do século passado, frontal e verídico como essa consistência telúrica e granítica do reino que ele inventou para nós, porque foi o primeiro a vê-lo com a alegria de uma magia descoberta, o seu reino do maravilhoso.
Miguel Torga escolheu esse pseudónimo em homenagem a duas figuras da cultura universal, Cervantes e Unamuno. Torga, em homenagem à sua natureza transmontana. Natural de Sabrosa, distrito de Vila Real, construiu uma obra vasta, variada que abarcou, a poesia, o romance, o conto e as memórias.
Fundou várias revistas literárias e publicou, desde 1928, uma extensa obra, podendo–se destacar: Os Bichos, Novos Contos da Montanha, A Criação do Mundo, A Poesia e Os Diários. Recebeu diferentes prémios entre 1969 e 1981 (Diário de Notícias, Poesia de Bruxelas, Prémio Montaigne). A sua escrita apresenta o encanto silvestre e a originalidade humana desse reino único, muito especial, a que ele deu o nome de maravilhoso.
É um autor que nos recorda o valor da paisagem e de como ela é uma construção humana. Torga é um exemplo da importância de um território e de uma memória como suportes de uma cidadania formalizada nos valores culturais de uma comunidade. As palavras de Torga são um combate pela liberdade, naquilo que ela tem de valor moral, de consistência civilizacional.
Eugénio de Andrade é um pseudónimo de José Fontinhas e com ele nasceu uma das mais importantes obras poéticas do século passado. Uma obra feita de palavras concisas, contempladas de emoção, nessa frugalidade que lhe inspirou a vida e que ele desenhou nas palavras essenciais, como água, sol, luz, claridade, amizade.
Da sua obra poética podemos destacar, As mãos e os frutos, de 1948, As palavras interditas de 1958, Véspera da água, de 1973, Limiar dos pássaros de 1976, Matéria solar de 1980, ou Rente ao Dizer, de 1992, entre outras obras de grande significado poético. Na prosa podemos destacar Os afluentes do silêncio, de 1968, Rosto Precário de 1979, ou à Sombra da memória de 1993. Publicou para o público mais jovem, História da Égua Branca, de 1977 e Aquela nuvem e as outras, de 1986.
A sua obra recebeu diferentes prémios, como sejam, o Prémio D. Dinis, da Casa de Mateus, O Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, de 1989, ou o Prémio Camões em 2001.
A sua obra ficou muito ligada ao imaginário da sua infância, mas também aos elementos com que conviveu na cidade do Porto. Em dias de silêncio, de passeio pela cidade das camélias, os seus passos encontravam as palavras com que chamava a cidade, como um refúgio de pássaros. Eugénio de Andrade buscava as palavras com aquela ideia telúrica e desassossegada de construir um olhar na cidade. E ele continua muito próximo de uma ternura emotiva pelas coisas.
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