quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Literatura e Cidadania (o Holocausto)



9 de julho de 1933

Mr. Max Eisenstein 
Sculse-Eisenstein Galleries
San Francisco
California, U.S.A.

   Caro Max,
   Como deves ter reparado, estou a escrever-te no papel timbrado do meu banco. Tem de ser assim, pois tenho um pedido a fazer-te e queria evitar a nova Censura que é extremamente rigorosa. Temos de nos deixar de escrever por uns tempos. (...)

   Quanto às medidas implacáveis que tanto te afligem, posso dizer-te que também eu a princípio não as apreciava, mas depois acabei por reconhecer serem infelizmente necessárias. A raça judia é uma chaga dolorosa em qualquer nação que lhe dê abrigo. (...)

   O judeu é o  bode expiatório universal. Isto não acontece por acaso. (...) Mas os problemas com os judeus não passam de um incidente. Passa-se algo de muito mais importante.
   Quem me dera poder mostrar-te, poder fazer com que visses... o renascimento da nova Alemanha guiada pelo nosso amado Chefe! Um povo tão grande não podia jazer eternamente subjugado pelo mundo. Vivemos catorze anos e cabeça baixa com a derrota. (...)

   Ao mesmo tempo que o escrevo, a arder de entusiasmo com esta nova visão, convenço-me que não compreenderás até que ponto tudo isto é necessário para a Alemanha. Verás apenas os problemas do teu próprio povo. Não verás que alguns terão de sofrer para que milhões se salvem. Antes de mais irás mostrar-te um judeu, em lamúrias pelo teu povo. É uma coisa que compreendo. Faz parte do carácter semita. Lamentam-se, mas mostram-se incapazes de ripostar. É por isso mesmo que há progroms. Há movimentos que são muito maiores do que os homens que os desencadeiam. Pela minha parte, faço parte do movimento. (...)

Toda a maré da vida de um povo muda incessantemente por ter surgido um homem de ação. E eu junto-me a ele. Não me limito a ser levado pela corrente. Deixo para trás a vida inútil, feita de palavras sem nenhuma realização. Sou um homem porque ajo. Antes disso não passava de uma voz. (...) Os homens são arrastado para o mal com tanta alegria e entusiasmo.

Somo cruéis. Claro que somos cruéis. Tal como todos os nascimentos são brutais, também o é este nosso novo nascimento. Mas nós rejubilamos. A Alemanha levanta a cabeça bem alto entre as nações do mundo. Segue o seu Glorioso Chefe rumo ao triunfo. Que podes tu saber disto, tu que te limitas a ficar sentado a sonhar? 
Nunca viste Hitler. É uma espada desembainhada. É uma luz brilhante, mas tão ardente como o sol de um dia novo.

   Tenho de insistir para que não me voltes a escrever. 
   Como deves ter compreendido, não temos já muito a ver um com o outro.
   Martin Schulse

Sem comentários:

Enviar um comentário