O velho sabia que ia muito para o largo, e deixou para trás o cheiro de terra e remou para o lavado e matinal cheiro do oceano. Via a fosforescência dos sargaços do Golfo na água, ao remar por sobre aquela parte que os pescadores chamam "o grande poço" e era uma súbita fossa de setenta braças onde se congregava toda a espécie de peixes arrastados pelo redomoinho da corrente contra a abrupta parede do fundo do oceano.Havia aí concentrações de camarões e de peixes de isca e, às vezes, bandos de calamares mais fundas, e estes subiam à noite até à superfície onde todos os peixes comiam neles.
No escuro o velho sentia a manhã que vinha, e remando ouvia o som trémulo dos peixes-voadores a sair da água e o silvo que as asas tesas faziam quando eles cortavam as trevas. Gostava muito dos peixes-voadores, seus diletos amigos no oceano.
Dos pássaros tinha pena, em especial das andorinhas-do-mar, escuras, delicadas, pequenas, que andavam sempre a voar e a olhar e a quase nunca encontrar nada, e pensava: "As aves têm uma vida mais dura do que a nossa, à exceção das de rapina e das muito fortes.
Porque há pássaros tão delicados e finos como essas andorinhas, quando o oceano pode ser tão cruel? É gentil e muito belo, Mas sabe ser tão cruel, e sê-lo tão de súbito, que tais pássaros que voam e mergulham à caça, com as suas vozinhas tristes, são demasiado delicados para o mar."
O velho e o mar / Ernest Hemingway. Porto: Porto Editora, 2015.
Sem comentários:
Enviar um comentário