Era uma vez uma menina com cabelos
caídos até aos ombros.
Chamava-se Matilde. Olhava para tudo
como se fosse sempre a primeira vez.
Matilde vivia numa
quinta dos avós. Aí havia um grande jardim de rosas vermelhas e violetas
rasteiras. A porta da entrada era decorada por uma frondosa trepadeira de
flores que ora pareciam azuis ora roxas. Matilde chamava-lhe Buga.
Nas noites
quentes, quando o cheiro da trepadeira inundava o jardim, Matilde e a amiga
dela que, quando o seu gato dourado morreu, quis que ele ficasse sepultado junto
às suas raízes. Desta forma, o gato durado continuaria ali com ela e com o Pastor, os seu cão branco, de olhos castanhos
e doces, que todos os dias ia para lá
ladrar e fazer buraquinhos na terra, como que a chamar o companheiro de
antigas brincadeiras. Às vezes, o Pastor levava-lhe ossos.
Mas, como os gatos
não gostam de ossos, era ele que os comia.
No
jardim havia ainda espaço para algumas árvores de fruto: laranjeiras,
macieiras, cerejeiras e oliveiras com folhas cor de prata. Matilde gostava
especialmente de uma das laranjeiras. Devido ao amor que sentia por ela, ficou
com a alcunha de Laranjinha. Essa árvore tinha um tronco forte onde, bem no
meio, havia uma covinha que parecia um banco.
Matilde sentava-se aí a ler
poemas em voz alta para a laranjeira, para os pássaros e para as formigas que
ali passavam em carreirinho. Ela gostava de ouvir o som das palavras, para as
saborear com todos os sentidos. Procurava a música própria de cada uma e a
seguir desenhava-as cuidadosamente, letra por letra. No fim, surgiram palavras
de todos os tamanhos, cores e feitios.
Matilde Rosa Araújo: um olhar de menina / texto
Adélia Carvalho ; il. Marta Madureira. - 2ª ed., rev. - Porto : Tcharan, 2017.
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