quinta-feira, 19 de março de 2020

dias de quarentena


"Se podes conservar o teu bom senso e a calma
No mundo a delirar para quem o louco és tu...
Se podes crer em ti com toda a força de alma
 Quando ninguém te crê...
Se vais faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário...
Se à torva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão...

Se podes dizer bem de quem te calunia...
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
 (Mas sem a afectação de um santo que oficia
 Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)
... Se podes esperar sem fatigar a esperança...
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho...
Fazer do pensamento um arco de aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho...

Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...
Se podes resistir à raiva e à vergonha
 De ver envenenar as frases que disseste
 E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
 Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...

Se podes ver por terra as obras que fizeste,
 Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
 E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio, a construir de novo...
Se podes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante..."
 Se, vivendo entre o povo, és virtuoso e nobre...
Se, vivendo entre os reis, conservas a humildade...
 Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
 São iguais para ti à luz da eternidade...
Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraia em séculos fecundos...

Então, ó ser sublime, o mundo inteiro é teu!
 Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!...
Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.
Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
 Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!...

Poema "Se " de Rudyard Kipling. Em baixo, o poema na voz de joão Villaret
Imagem: Copyright - Johanna Wright
Um poema para ler no dia do pai entre todos, uma forma mais de incentivar a comunicação e a descoberta das palavras na família.

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