Uma nação vive, próspera, é respeitada, não pelo seu corpo
diplomático, não pelo seu aparato de secretarias, não pelas recepções
oficiais,(...); isto nada vale, nada constrói, nada sustenta;(...). Uma nação
vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua
literatura, pelos seus exploradores científicos, pelos seus artistas». (1)
José Maria de Eça de Queiroz nasceu na Póvoa do Varzim em 1845.
Estudou entre o colégio da Lapa, na cidade do Porto, e a Universidade de
Coimbra, onde entrou no primeiro ano, em 1861. Aqui, ligou-se a uma geração
académica, admiradora das ideias de Proudhon e de Comte. Travou conhecimento
com Antero de Quental e iniciou a sua carreira literária, com a publicação de
folhetins que mais tarde seriam agrupados nas Prosas Bárbaras (1905).
Em 1866, formou-se em Direito e passou a viver em Lisboa,
onde exerceu a profissão de advogado. Cimentou a sua ligação a Antero de
Quental e ao grupo do Cenáculo (1868), após ter dirigido o Distrito de
Évora (1867). Em 1869, viajou até ao Egito, para fazer a reportagem
sobre a inauguração do Canal do Suez, de que resultará O Egipto,
publicado apenas em 1926.
Em 1871, participou nas Conferências do Casino Lisbonense. Entre
1869 e 1870, publicou diferentes obras, tais como Os Versos de Fradique
Mendes, O Mistério da Estrada de Sintra, em
parceria com Ramalho Ortigão e iniciou a publicação das Farpas. Em
1871, foi nomeado 1.º Cônsul nas Antilhas espanholas, transitando depois para
Cuba, onde permaneceu dois anos. Entre 1883 e 1887, refez algumas das suas obras
e publicou o Conde D’Abranhos e Alves & Companhia. Em 1874, passou a
desempenhar a sua atividade em Inglaterra, foi em Newcastle que
terminou O Crime do Padre Amaro (1875), ali ficando até 1878.
Após esta data, foi para Paris, onde se dedicou à criação literária e onde faleceu em 1900. Em 1888, publicou a sua grande obra Os Maias e foi nomeado Cônsul em Paris. Continuou a escrever diferentes textos e obras, como A Ilustre Casa de Ramires ou a publicação na Revista Moderna, em Paris.
Eça é um dos maiores escritores de língua portuguesa, (talvez o maior) sendo em
muitos aspetos uma figura que cria um mundo novo que alcança formas novas de
exprimir um modernismo na escrita. A sua obra evoluiu de uma formulação inicial mais fantástica e
influenciada por nomes como Baudelaire ou Heine, presente nos artigos e
crónicas, para numa fase posterior se dedicar à crítica das instituições mais
tradicionais, preocupando-se com a reforma social, dando-nos belos quadros de
“crónicas de costumes.” Na última fase, encontramos uma escrita com mais
esperança, com o culto da Natureza e de um certo regresso à simplicidade do
homem, como se percebe em A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as
Serras ou a Correspondência de Fradique Mendes.
Eça de Queirós tendo vivido na parte final do
século XIX soube pela sua capacidade de análise do quotidiano e da organização
social, traçar com humor algumas das características deste País. O
diagnóstico de uma classe política naufragada onde os interesses particulares
parecem não ser capazes de organizar institucionalmente o País, onde as ideias
tantas vezes decididas em circunstâncias de acaso parecem ameaça-lo, nos seus oito séculos de história. Vindo do século XIX é um
modernista na escrita e no pensamento que nos deixou. A sua obra tem a marca
dos grandes escritores. Pretendeu agitar nos cidadãos de um País a ambição
não só de existir, mas de acompanhar a civilização nos seus aspetos mais
modernos e transformadores da vida.
A utilização do humor, como forma superior de
caricatura do mais banal e trivial no quotidiano deu-lhe uma dimensão quase
intemporal pela afirmação da cultura e da arte como formas de exprimir uma
sociedade. Sociedade cuja espuma dos dias é diferente pelos mais evidentes
motivos, mas cujas ondas ainda se organizam em princípios que Eça explicitou há
mais de um século. Há no país uma permanência que ele soube captar.
(1) Eça de Queiroz, Distrito de
Évora
Imagem, in contosdocovil.wordpress.com
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