"Na medida em que a hipótese central do
totalitarismo repousa sobre o"tudo é possível", uma cidadania sensata
e uma acção racional devem repousar sobre a hipótese inversa de uma
constituição da natureza humana, ela própria justificada pela sua capacidade de
abrir, de preservar ou reconstruir um espaço político". (1)
Hannah Arendt é um dos mais importantes
nomes do pensamento filosófico do século XX. Devemos-lhe uma lucidez capaz de
compreender os mecanismos que suportam a maldade como forma de organização de
um qualquer poder político. O seu estudo assenta sobre esse acontecimento
inexplicável nos fundamentos racionais da humanidade, essa doença do espírito
que foi o nazismo.
Hannah Arendt num filme de Margarethe Von
Trotta que é um exercício de cidadania e de afirmação democrática pelo que faz
discutir os elementos simbólicos da organização das sociedades, revelou uma
dimensão que urge salientar pela sua importância sociológica. O filme retrata a
julgamento de Eichmann e a sua iniciativa de tentar compreender como se
suportava no pensamento, na explicitação o "mal absoluto", num
indivíduo responsável pela eliminaçãode tantos milhões de judeus. E o que
Hannah Arendt compreendeu é que aquele homem não conseguia estar à altura da
terrível condição que foi o nazismo. Não existe afirmação ideológica, nem
arrependimento.
O que Hannah Arendt ouve é a voz de um
burocrata, um homem que cumpre tarefas, ordens, que não está envolvido nas suas
ações na engrenagem sequencial do nazismo. Hannah Arendt
compreende que existe nestes funcionários a execução do mal, a banalidade
extrema desse mal. Os funcionários de Hitler não corporizam uma ideia de mal.
Nessa banalidade do mal, houve uma Alemanha instruída, culta que fechou os
olhos a este drama humano. A antiga aluna de Heidegger insiste que não se pode
desligar o pensamento da quotidiano.
O filme sobre Hannah Arendt não nos ilustra
um período histórico. Ele é uma peça essencial para pensar as sociedades
contemporâneas, o modo como as formas de poder biopolítico se organizam. Nele podemos pensar que sociedade pretendemos construir, num mundo demasiado
formulado a práticas burocráticas com falhas claras nos de valores de cidadania.
O You Tube disponibliliza o fiilme legendado. Aqui o deixamos.
(1) - Hannah Arendt, Between Past and Future: Eight Exercises in
Political Thought.
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