Era uma vez – em tempos muito
antigos, no arquipélago do Japão – uma árvore enorme que crescia numa ilha
muito pequenina.
Os
japoneses têm um grande amor e um grande respeito pela Natureza e tratam todas
as árvores, flores, arbustos e musgos com o maior cuidado e com um constante
carinho.
Assim, o
povo dessa ilha sentia-se feliz e orgulhoso por possuir uma árvore tão grande e
tão bela: é que em nenhuma outra ilha do Japão, nem nas maiores, existia outra
árvore igual. Até os viajantes que por ali passavam diziam que mesmo na Coreia
e na China nunca tinham visto uma árvore tão alta, com a copa tão frondosa e
bem formada.
E, nas tardes
de Verão, as pessoas vinham sentar-se debaixo da larga sombra e admiravam a
grossura rugosa e bela do tronco, maravilhavam-se com a leve frescura da
sombra, o suspirar da brisa entre as folhagens perfumadas.
Assim foi
durante várias gerações.
Mas, com
o passar do tempo, surgiu um problema terrível, e por mais que todos meditassem
e discutissem, ninguém era capaz de arranjar uma boa solução.
Porque,
ao longo dos anos, a árvore tinha crescido tanto, os seus ramos tinham-se
tornado tão compridos, a sua folhagem tão espessa e a sua copa tão larga que,
durante o dia, metade da ilha ficava sempre à sombra.
De
maneira que metade das casas, das ruas, das hortas e dos jardins nunca apanhava
sol.
E, na
metade ensombrada, as casas estavam a ficar húmidas, as ruas tinham-se tornado
tristes, as hortas já não davam legumes, os jardins já não davam flor. E a
gente que ali morava andava sempre pálida e constipada.
E, à
medida que a sombra da árvore crescia, crescia também a perturbação.
As
pessoas gemiam:
— Que
havemos de fazer? Que havemos de fazer? (…)
A árvore / Sophia de
Mello Breyner Andresen ; il. Teresa Lima. - 16ª ed. - Porto : Porto Editora,
2015. - 34, [2] p. : il. ; 23 cm. - ISBN 978-972-0-72629-2
(Os alunos do Agrupamento realizaram hoje a prova de escola do Concurso Nacional de Leitura de 2019/2020. Em cima um excerto desse conto em que Sophia reconstituiu uma antiga história japonesa.)
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