Talvez, como pensava Victor Hugo, a mulher seja sobretudo um ideal, ou talvez um coração a cantar de um outro modo a vida. A mulher é muito mais leve do que o homem, afirma uma graça que dança caminhos como uma ave rente à água. A mulher constrói em gestos muito mais formosura, um corpo a sorrir, como frestas do vento em tardes luminosas. Há nelas, uma construção iluminada nos instantes, como uma mão, moldando costas de mármore, reconstruindo sombras. Natália pensava que a missão, (palavra difícil) da mulher era encantar, era ser um acontecimento, o que é algo igualmente necessário para os homens, para qualquer criatura humana.
E, talvez seja isso o necessário, cada um tentar ser um acontecimento num outro. E isso é uma forma de amor, talvez uma das expressões do “Caring Thinking”. O qual faz o encantamento pelas coisas, dando na expressão de Sophia, "aos dias tecidos um ar de fantasia" e [fazer-nos] pensar que cada um talvez possa ser uma ave a desenhar as perguntas nos nomes das coisas.
E do encantamento, ou dessa outra maneira de o expressar "stay hungry stay foolish", Eugénio de Andrade deixou poemas sobre essa importância da descoberta e da capacidade do sonho, no belo, na vida e na mulher:
“Faz uma chave, mesmo pequena,
entra na casa.
Consente na doçura, tem dó
da matéria dos sonhos e das aves.
Invoca o fogo, a claridade, a música
dos flancos.
Não digas pedra, diz janela.
Não sejas como a sombra.
Diz homem, diz criança, diz estrela,
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.
Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.” (1)
(1) Eugénio de Andrade, “Faz uma chave”, Poesia. Porto: Assírio & Alvim, 2017.
Um feliz dia da Mulher!
Imagem: Mulheres. Clare Mallison
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