quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Minutos de leitura - "Viktor e Rocka"

   


Mas afinal donde vieste?

   De parte alguma!

   Quem te criou? Quem te inventou? Quem te imaginou?

   Ninguém.
   E como é que apareceste aqui, neste espaço que nada é, que se confunde e entremeia noutros espaços igualmente indizíveis?

   Sou fruto de transformações, umas mais arrogantes e pretensiosas que outras!

   Não estás sozinho...

   Não. Tenho uma companhia que é doutra espécie diferente da minha, uma espécie que consegue reproduzir-se. Mais nada!
   Como se reproduz?

   Por via de mim próprio.

   Ninguém sabe. 
   O que vos acontecerá quando desaparecerem? 

   Tornaremos a aparecer.

   Como?

   Não sei.
   Vivendo?

   Existindo.

   Tens alguma coisa para contar?

   Sim, enquanto andar neste espaço da Terra.
   Que coisas tens para contar?

   Sim, tudo o que compõe a Natureza, tudo o que é cor, tudo o que é vida.

   Desgraças? 
   Sim, trevas, sombras e securas; o grito que ninguém ouve, o aviso eterno da Natureza através dos terramotos, dos furacões, dos tsunamis, dos vulcões...
 

   Gostávamos de te ouvir!


Lusco-fusco / Cristina Carvalho. Lisboa: Sextante Editora, 2011

      

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Minutos de leitura -barca bela

 


Pescador da barca bela

Onde vais pescar com ela,

     Que é tão bela,
      Ó pescador?


Não vês que a última estrela

No céu nublado se vela?
      Colhe a vela.

       Ó pescador!


Deita o lanço com cautela,

Que a sereia canta bela...
     Mas cautela,

     Ó pescador!


Não se enrede a rede nela,

Que perdido é remo e vela,

     Só de vê-la,

     Ó pescador!


Pescador da barca bela,

Inda é tempo, foge dela,

     Foge dela,

     Ó pescador!


"Barca bela", in Tesouro poético da infância / Almeida Garrettt. Lisboa: Publicações D. Quixote, 2003.

Imagem: Copyright - Almanak Silva

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Minutos de leitura - Fundo do mar



No fundo do mar há brancos pavores, 

Onde as plantas são animais

E os animais são flores.


Mundo silencioso que não atinge

A agitação das ondas.

Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.

Um polvo avança

No desalinho
Dos seus mil braços,

Uma flor dança,

Sem ruído vibram os espaços.


Sobre a areia o tempo poisa

Leve como um lenço.


Mas por mais bela que seja cada coisa

Tem um monstro em si suspenso.


"Fundo do mar",  in Obra PoéticaI / Sophia. Alfragide: Caminho, 1995.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Minutos de leitura - brinquedo


Foi um sonho que eu tive:

Era uma grande estrela de papel,

Um cordel
E um menino de bibe.


O menino tinha lançado a estrela

Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela,

Presa pelo cordel à sua mão.


Mas tão alto subiu

Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu

E cortou-lhe o cordel.


"Brinquedo" / Miguel Torga, in Antologia Poética. Lisboa: Publicações Dom Quixote


terça-feira, 22 de setembro de 2020

Equinócio de Outono

 

O Equinócio de Outono ocorre hoje, dia 22 de Setembro, sensivelmente pelas 14:31 horas. Este instante marca o início do Outono no Hemisfério Norte. Esta estação prolonga-se até ao próximo Solstício que ocorre no dia 21 de Dezembro às 10:02 horas. OS equinócios são fenómenos astronómicos que ocorrem duas vezes por ano e estão relacionados com a inclinação da Terra e o nível de incidência solar durante determinadas estações do ano. 

 Os equinócios definem as estações do ano: no dia 21 de março tem início a Primavera no Hemisfério norte e o outono no hemisfério sul. No dia 22 de setembro dá-se o inverso, isto é surge o Outono  no Hemisfério norte e a Primavera no hemisfério sul. 

 Na verdade equinócio de Outono é a designação dada pela Astronomia que marca o fim do Verão. Isto significa que nesse momento o Sol  cruza a linha imaginária do do equador. A palavra equinócio é composta por duas palavras aequs e naz, que significam igual e noite. Isso diz-mos que no momento do equinócio os dias e as noites têm aproximadamente o mesmo tempo, isto é doze horas.


Minutos de leitura - O outono entra sempre pela janela


Voam folhas pelo ar
Sopradas por um vento forte,

São histórias de encantar

Trazidas pelo vento norte.

 

Menino, vai à janela

E abre-a com mil cuidados:

Deixa que entrem os sonhos,
As sementes, os medronhos,

Os mochos, os cogumelos,

As nozes e os veados.


Menina, vai à janela

E abre-a devagarinho:

Deixa o outono entrar,
Que ele acabou de chegar

À boleia de uma folha

De um cavalo-alvarinho.

 

"O outono entra sempre pela janela", in As quatro estações / Manuela Leitão; Catarina Correia Marques. Lisboa: Máquina de voar, 2019

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Minutos de leitura - setembro

Este é o mês em que as folhas

começam a arder devagar.
Nos ramos ainda, a mudança

- verde, dourado, castanho -

até chegar, tão cruel,
o dia em que a folha se solta

e tomba no chão de outono.

 

E a saudade principia,
a melancolia do verão,

O corpo ainda a beber

a última réstia de sol...

 

E aquela alegria final

de quem recebe nas mãos

a oferenda das uvas?

João Pedro Mésseder, in O Livro dos Meses
Imagem: Copyright: Tasama Jamarina


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Atividade semanal 1: de início do ano (3.º Ciclo)

 

 1. Lê os seguintes poemas e observa as imagens

"Dia do mar no ar, construído
Com sombras de cavalos e de plumas.

Dia do mar no meu quarto - cubo

Dia do mar no ar, construído
Com sombras de cavalos e de plumas.

Dia do mar no meu quarto - cubo
Onde os meus gestos sonâmbulos deslizam
Entre o animal e a flor como medusas.

Dia do mar no ar, dia alto
Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem

Rolando sobre as ondas, sobre as nuvens."

"Dia do mar no ar, construído", in Mar / Sophia de Mello Breyner Andresen. Lisbo

a. Caminho, 2001.
Imagem: Copyright - Eider Oliveira

        "Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,

A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz

Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho

Seres um milagre criado só para mim."

"Mar sonoro” in Poesia / Sophia de Mello Breyner Andresen. Lisboa: Caminho, 2001.
Imagem: Copyright - Fernand Nadal

 Esta primeira sugestão de trabalho é uma ideia para dar as boas vindas a todos, por parte da Biblioteca e para introduzirmos o que será a temática central deste ano letivo, o mar e os oceanos.

O Mar é uma das temáticas centrais de uma das maiores escritoras do século passado e deste, justamente, Sophia de Mello Breyner Andresen. O Mar é um dos grandes mistérios com que cada pessoa nesta vida se defronta. Enorme, grandioso, ameaçador, cativante, meio de comunicação e fonte de vida, ele é um permanente desafio. Cada um olha-o de modo diverso. O Mar e o Céu parecem juntar-se, fundir-se numa dimensão que às vezes parece real, outras um horizonte de mistério, por onde a nossa imaginação se perde. E para ti, que valor tem O Mar? Como o vês, como o sentes quando o observas, ou simplesmente disfrutas da sua grandeza?

 1. Cria um pequeno texto ou faz um desenho

Ouve / vê esta adaptação de um poema de Sophia e cantado por Maria Betânia, do seu álbum, O Mar de Sophia:  (https://youtu.be/9MiEPS1P7i4)

 Escreve um pequeno texto sobre o significado que tem para ti o mar, ou faz um desenho que represente a imagem que dele tens?

  Partilha-o com a Biblioteca (biblioteca@marinhas.org) 

Obrigado, A Biblioteca Escolar.

17.09.2020

Atividade semanal 1: de início do ano (1.º / 2.º Ciclos)


 Esta primeira sugestão de trabalho é uma ideia para dar as boas vindas a todos, por parte da Biblioteca e para introduzirmos o que será a temática central deste ano letivo, o mar e os oceanos.

A Onda de Suzy Lee é um livro sem palavras contendo apenas imagens. Por elas descobrimos os elementos naturais que encontramos junto do mar. Justamente, o mar, as ondas, a areia, as rochas, as gaivotas e uma imensidão de azul. Neste livro verifica-se que a criança estabelece um jogo de aproximação e de afastamento ao mar, como se o quisesse cumprimentar ou conhecer melhor. Neste livro percebemos que existe uma fronteira entre o que é real, que existe e o que pode ser imaginado. O nosso olhar para o mar é feito dessa fronteira, mas como o vemos, como descobrimos, como o sentimos?

1. Cria um pequeno texto ou faz um desenho

Vê um pequeno filme que te mostra o livro (https://youtu.be/9MiEPS1P7i4)

Observa algumas das imagens em baixo.

 

  Escreve um pequeno texto sobre o significado que tem para ti o mar, ou faz um desenho que represente a imagem que dele tens?

 Partilha-o com a Biblioteca (biblioteca@marinhas.org)

Obrigado, A Biblioteca Escolar.

17.09.2020