"O mundo é um vazio desmedido que não queremos
nem podemos aceitar, os homens também, as cidades, os países, os planetas
também. Não há palavras que encham tanto vazio. Os livros que deixamos são
obras de filigrana, fios ténues do sentido com que delimitamos o volume do que
não entendemos."
A palavra viaja pelo mundo, encontra-se em geografias diversas, resgata os sinais daquele e tenta dar-lhe um nome, trabalhamdo artesanalmente os seus sinais. O livro de Nuno Camarneiro, No meu Peito não batem
Pássaros tenta construir esse diálogo entre a palavra e o que o mundo nos dá a conhecer, ou o que tentamos compreender.
No meu peito não cabem pássaros junta três figuras
maiores da Literatura do século XX, justamente, Franz Kafka, Jorge Luís Borges
e Fernando Pessoa. Junta-as a partir da leitura da vida que se vai construindo,
de um imigrante em Nova Iorque, de um rapaz que chega a Lisboa e de uma criança
que inventa coisas, formas de anunciar o que acontecerá mais tarde.
No meu Peito não batem Pássaros realiza a narrativa
de três figuras que tentam descobrir espaços urbanos, carregar sonhos maiores que
eles e compor palavras com a linha comum de inventar um mundo. É um livro
sobre criadores, é um livro sobre cidades e ainda um livro sobre três figuras
que entre a solidão e a desilusão nos definem o assombro das palavras, a
linguagem para compor aquilo que é a vida de milhões, o prenúncio do mundo
moderno.
No meu Peito não batem Pássaros fala-nos da vida, da
memória, da morte, do esquecimento, entre os caminhos que percorremos, com o
sol a nascer em nós. A infância, o consolo das histórias vividas e inventadas
entre os que no tempo forjaram o azul de um aconchego e nos deram a visão de um
caminho.
Livro imenso, uma sabedoria de palavras, momentos
intermitentes que nos dão a linha dos olhos que procuramos para recuperar a
beleza, o encontro com a respiração do amor. E, ainda esse sonho antigo que nos
faça ser um ponto brilhante nos dias esquecidos. A beleza e o sorriso entre as
cicatrizes que nos caracterizam, que nos rasgaram o espírito e o corpo até
chegar ao encontro, à mão, ao perfume solar capaz de nos fazer render um novo
salto, a dos pássaros que em nós voam.
No meu peito não cabem pássaros
/ Nuno Camarneiro. Lisboa: D. Quixote, 2013.
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