sexta-feira, 24 de julho de 2020

No meu peito não cabem pássaros


"O mundo é um vazio desmedido que não queremos nem podemos aceitar, os homens também, as cidades, os países, os planetas também. Não há palavras que encham tanto vazio. Os livros que deixamos são obras de filigrana, fios ténues do sentido com que delimitamos o volume do que não entendemos."

A palavra viaja pelo mundo, encontra-se em geografias diversas, resgata os sinais daquele e tenta dar-lhe um nome, trabalhamdo artesanalmente os seus sinais. O livro de Nuno Camarneiro, No meu Peito não batem Pássaros tenta construir esse diálogo entre a palavra e  o que o mundo nos dá a conhecer, ou o que tentamos compreender.

No meu peito não cabem pássaros junta três figuras maiores da Literatura do século XX, justamente, Franz Kafka, Jorge Luís Borges e Fernando Pessoa.  Junta-as a partir da leitura da vida que se vai construindo, de um imigrante em Nova Iorque, de um rapaz que chega a Lisboa e de uma criança que inventa coisas, formas de anunciar o que acontecerá mais tarde.

No meu Peito não batem Pássaros realiza a narrativa de três figuras que tentam descobrir espaços urbanos, carregar sonhos maiores que eles e compor palavras com a linha comum de inventar um mundo. É um livro sobre criadores, é um livro sobre cidades e ainda um livro sobre três figuras que entre a solidão e a desilusão nos definem o assombro das palavras, a linguagem para compor aquilo que é a vida de milhões, o prenúncio do mundo moderno.

No meu Peito não batem Pássaros fala-nos da vida, da memória, da morte, do esquecimento, entre os caminhos que percorremos, com o sol a nascer em nós. A infância, o consolo das histórias vividas e inventadas entre os que no tempo forjaram o azul de um aconchego e nos deram a visão de um caminho.

Livro imenso, uma sabedoria de palavras, momentos intermitentes que nos dão a linha dos olhos que procuramos para recuperar a beleza, o encontro com a respiração do amor. E, ainda esse sonho antigo que nos faça ser um ponto brilhante nos dias esquecidos. A beleza e o sorriso entre as cicatrizes que nos caracterizam, que nos rasgaram o espírito e o corpo até chegar ao encontro, à mão, ao perfume solar capaz de nos fazer render um novo salto, a dos pássaros que em nós voam.

 No meu peito não cabem pássaros / Nuno Camarneiro. Lisboa: D. Quixote, 2013.

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