"Uma senhora
tinha três filhas.
Três
tesouros.
Valiam mais
de mil sacos de ouro.
Nunca
trocaria as filhas por nada, nem guloseimas nem maravilhas.
As filhas
da senhora eram as suas maiores alegrias, as suas companhias.
Com elas
passava os dias, e os dias eram só amor que aumentava.
A senhora
sorria.
Uma senhora
tinha três filhas.
Três
tesouros.
Valiam mais
de mil sacos de ouro.
E as filhas
brincavam e cantavam de contentes.
Passavam os
dias a fazer coisas diferentes.
Inventavam
peripécias, vestiam disfarces, sonhavam com árvores quando espalhavam sementes.
Iam quintal
fora, tão vistosas, com as mãos estendidas sobre a terra, e a terra
preperava-se para ser cultivada.
… A senhora
sorria
…
Uma senhora
tinha três filhas.
Três
tesouros.
Valiam mais
de mil sacos de ouro.
Dormiam
numa cama grande, as filhas, alinhadas por ordem de chegada: primeiro a mais
velha, depois, a do meio e, por último, a mais nova.
A senhora
dizia-lhes boa noite e beijava-as. As filhas sossegavam.
Achavam
que, deitadas, adormeciam como a andar nas nuvens. Voavam.
…
Uma senhora
tinha três filhas.
Três
tesouros.
Valiam mais
de mil sacos de ouro.
Estavam as
filhas doentes e o importante era esperar.
Fazer o que
mandava o doutor e esperar.
A senhora
penteava uma e outra e mais outra.
A senhora
beijava uma e outra e mais outra.
A senhora
sorria para uma e outra e mais outra.
As filhas
acreditavam que no coração da mãe
Havia uma
corda atada ao coração de todas elas, porque a senhora era incapaz de parar de
amar.
Ela era
incapaz de parar.
E a senhora
esperava.
…
Uma senhora
tinha três filhas.
Três
tesouros.
Valiam mais
de mil sacos de ouro.
Tão felizes
ficaram todas por estarem bem de saúde…
Tinham sido
corajosas.
Só
precisaram de esperar. E esperariam sempre por uma e outra e mais outra.
E a senhora
disse: - Eina, que estou tão feliz.
E as filhas
riram-se com ela. Juntas, as filhas e a mãe eram na verdade quatro tesouros.
Uma e outra
e outra e mais outra. Quatro tesouros.
De amor.
Valiam mais
do que todos os sacos de ouro juntos."
Quatro tesouros / Valter Hugo Mãe. Lisboa. Alfaguara. 2011.
Em baixo apresentação do livro que é um projeto da Pediatria Oncológica do Hospital de São João com o escritor Valter Hugo Mãe.
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