quarta-feira, 29 de abril de 2020

Minutos de leitura (VIII)

Estava um melro empoleirado no alto da manhã. Antes que conseguisse deitar-lhe a mão, o coração soltou-se-lhe e voou até ele. Pássaro e coração agora juntos no alto da manhã. 

Tinha oito anos e um laçarote novo ao pescoço. Toda catita! Ia a um concerto e a mãe tinha querido que fosse bem aperaltado. Afinal, não era um concerto qualquer. Ia sentar-se ao piano e tocar! Sentia-se estranho com aquele laço, mas a mãe tinha tido tanto empenho a fazê-lo...

Aprendera com ela a tirar sons com melodia do teclado em carreirinhas brancas, semeado e carreirinhas pretas. 

Assustado, o coração, com tanta gente a espreitá-lo.

Chegado a casa, salta a pergunta ansiosa da mãe:
- Então, Chopinek?
Não responde logo, hesita. Depois, agilmente, como pássaro libertado:
- Acho que gostaram do meu laço novo...

Debruça-se sobre o piano, desperta as carreirinhas . Desperta a casa, a imaginação. Desafia sonhos de viagens, movimentos de danças, serões sob as estrelas, vozes que correm, passos ritmados, pé leve. Descobre-nos a alma.

Justina, a mãe da casa, esqueceu-se do movimento que ia fazer...

Luísa deixa-se transportar nas mãos do irmão. Querido Fréderic...

Isabel talvez dormisse, talvez não...

Interrompido o choro de Emília, esquecida a razão.

Nicolas, o pai da saca, suspenso no dia.

O som espraia-se e apaga o mundo, acorda o espaço.

Movem-se as carrerinhas brancas, semeadas de carreirinhas pretas, sob os dedos de Fréderic François Chopin.

O meu primeiro Chopin / Rosa Salvado Mesquita. Alfragide: D. Quixote, 2009

terça-feira, 28 de abril de 2020

E@D: trabalhos

Decorrente das sugestões de trabalho da Biblioteca para a semana de 20 a 24 de abril, sobre a liberdade e o 25 de Abril, deixamos aqui alguns trabalhos, que muito agradecemos, pela sua partilha.


 1. Três palavras: os livros, a minha família, as minhas coisas pessoais;
- Os livros são o meu tesouro, porque é neles que aprendo a ler e a escrever, para um dia mais tarde ser alguém na vida como meus familiares.
- A minha família é o meu tesouro porque são eles que me ajudam a crescer, me educam, me alimentam.
- As minhas coisas pessoais são o meu tesouro, porque são objetos, utensílios que são muito importantes para mim.

2. O tesouro é a liberdade, ela é importante porque com a liberdade as pessoas juntam-se, convivem, gozam suas vidas neste meio em que vivemos.

3. A Liberdade é ser livre e viver sem medos, a liberdade causa alegria pois com ela podemos fazer o que mais gostamos. No dia 25 de Abril é comemorado o dia da liberdade, este dia é sinalizado com cravos vermelhos.
Este ano o dia da liberdade foi relembrado de outra forma e diferente dos outros anos, devido á situação que o nosso país se encontra não podemos sair á rua para sinalizar mais uma vez esse dia, mas em casa marcamos na mesma esse dia onde fizemos cravos de papel e o desenho que fixei em cima. Então liberdade é conseguir seguir em frente sem sentir medo de perder o que fica para trás.
 Leandra Sá

E@D: trabalhos

Decorrente das sugestões de trabalho da Biblioteca para a semana de 20 a 24 de abril, sobre a liberdade e o 25 de Abril, deixamos aqui alguns trabalhos, que muito agradecemos, pela sua partilha.


Marta Silva Sousa

E@D: trabalhos

Decorrente das sugestões de trabalho da Biblioteca para a semana de 20 a 24 de abril, sobre a liberdade e o 25 de Abril, deixamos aqui alguns trabalhos, que muito agradecemos, pela sua partilha


1. O tesouro
        Eu tenho muita sorte.
        Eu tenho sorte de viver numa Família que me ama.
        Eu tenho amor por todos. 

2. O significado do tesouro era a liberdade.

3. Poema sobre a liberdade


    Rimos e choramos 

    De pé  ou deitados
    Por conta da revolução dos cravos
    Grita ,grita
    Grita a LIBERDADE
    Agora é de verdade!
   Ó andorinha
   Que voas à vontade
   Pois trazes a pura verdade
   25 de abril dia da liberdade
   Pois festejamos
   Com toda a felicidade.

  VIVA O 25 DE ABRIL

 Íris Cepa Nº12

Diana Leite

Biblio@rs (IV-IV)

A Civilização Egípcia   (3500 a 500 a.C.) - A arte: A Pintura - 
Tal como a arquitetura, a pintura foi uma das atividades artísticas mais importantes da Civilização Egípcia. É interessante verificar que entre o Paleolítico e as pinturas rupestres até a esta civilização, a pintura não teve grande significado. A pintura na Civilização Egípcia serviu o mesmo objetivo da arquitetura, isto é dar conteúdo e contexto aos templos, palácios e túmulos. A utilização da pintura para efeitos do sagrado justificava-se com a ideia de que terminando a vida terrestre com a morte, era preciso construir uma outra dimensão. Dimensão que no casos dos reis, faraós e sacerdotes podia-se prolongar se existisse uma marca da passagem pela vida.

A vida na ideia da Civilização Egípcia tinha uma "essência eterna", o que levou a que a arte na pintura tentasse transmitir algo que não mudaria, apenas se transformaria num plano diverso. As representações aparecem com a cabeça e os pés de perfil e o resto do corpo de frente, assim como as cores contrastavam com os fundos brancos, o que produzia um efeito muito particular.
Na civilização Egípcia ao contrário do que se verificará mais tarde,  utilizava-se sobretudo a técnica do fresco secco, que consistia em aplicar a têmpera (conjunto formado pelos pigmentos ou corantes misturados com materiais como a areia e água) no estuque já seco.

Toda a pintura da Civilização Egípcia se assemelha na forma, pois era uma arte muito intelectualizada, isto é construída para obedecer às hierarquias sociais e às marcas culturais. A apresentação dos olhos para o lado e as representações do resto do corpo eliminavam a ideia de perspetiva e davam às figuras uma aparência de duas dimensões (bidimensional). As imagens da pintura desta civilização eram idealizadas com diferentes representações, de acordo com a importância na própria sociedade.

Minutos de Leitura (VII-3.º Ciclo)

Depósito Santa Mariah: Noites Estreladas no Jardim!
Percorria ao anoitecer os jardins
da cidade à procura das flores
oficiais - sobem amparadas
e perfumam com a memória
do chá as ruas irregulares.
Levava uma tesoura de unhas,
insuficiente e desnecessária porque
não colhia nada que fosse vivo.
Restavam-me frases livres,
páginas dobradas, cadeiras desiguais
e os pratos vazios deixados
aos gatos.
O primeiro poema encontrei-o
numa dessas buscas
debaixo da árvore maior,
no ferro que sustenta a copa,
preso com uma mola da roupa.

Margarida Ferra. (2010). "Nome comum: Jasmim-dos-Poetas", in Curso Intensivo de Jardinagem. & Etc.

Minutos de leitura (VII)

Hoi An, entre los campos de arroz de Vietnam 

"O avô comprou um pequeno barco de fundo chato para remar através dos campo inundados quando a estação das chuvas chegasse. Disse que era uma maneira agradável de escapar à azáfama da avó. Kati e o avô saíam sozinhos no barco. Partiam ao fim da manhã, o avô  a remar com todo o vagar, percorrendo o canal e contemplando as árvores de fruto que cresciam ao longo das margens: mangueiras e jamboeiros misturados com casuarinas que se davam bem à beira da água. 

O avô não parava para descansar, mas cumprimentava todas as pessoas que via. O tio Sohn estava a içar a rede do cais diante de sua casa e parecia que fizera uma boa apanha de peixe tapean. O avô prometeu que, no regresso a casa, parariam ali para comprar alguns a fim de que a avó os marinasse em molho de anchovas para o jantar de Kati.

O barquinho afastou-se da sombra protectora da margem e dirigiu-se ao campo aberto que parecia estender-se a toda a  largura e profundidade que a vista alcançava. A esteira de água que deixavam atrás de si era encrespada por uma leve brisa e, ao longe, os arrozais cintilavam dum verde garrido. O avô deixou o barco ir à deriva até ao meio do campo e começou a colher caules de lírios. ERra preciso estar com todo o cuidado para ter a certeza de que colhia lírios pun e não lírios peuan, que tinham um sabor amargo. 

Os lírios  pun tinham flores amarelo-vivas e folhas arredondadas sem veios. Os seus caules frescos e estaladiços eram deliciosos quando saboreados com o molho de chili picante com que a avó  recheara as folhas de lírios acompanhadas com arroz recém-colhido para o almoço de ambos. Kati entretinha-se a despedaçar os caules dos lírios aos bocadinhos e a tornar a juntá-los num colar. Às vezes viu um aglomerado de krajup. Preferia-os às castanhas-de-água e o avô amontova-os no fundo do barco para os levarem e comerem cozidos.

Depois havia ainda os jacintos-de-água com as suas frágeis flores púrpura-pálidas. Se as segurássemos nas mãos, era um ápice enquanto murchavam. As campainhas brancas também eram bonitas. O avô dissera-lhe que artistas como Monet eram capazes de as pintar na tela tão bonitas como ao vivo.

O avô remava tranquilamente, sem se preocupar com a hora a que saíra de casa, aonde teria de ir a seguir nem quando teria de regressar. Dissera que não estavam a fazer uma excursão sujeita aos ditames dos horários dos comboios. Estavam a fazer uma excursão sujeita aos ditames dos seus corações.

O barco de fundo chato com as suas tábuas robustas dava um excelente meio de transporte. Não poluía o ambiente e rasgava as águas límpidas segundo a cadência do remador. Se remasse em direcção a um bando de alfaiates, estes insectos fugiam desvairados, dando azo ao caos. O avô e Kati dispensavam palavras. Ao invés, deixavam que o pequeno barco e a água se cumprimentassem. O Sol parecia muito longínquo no céu, pese embora os seus raios fossem agora fortes. 

à sua volta, porém, a água cobria completamente o arrozal, exercendo um efeito refrescante que afastava o calor. Dava a sensação de que o tempo se imobilizara. A água e o céu, o vento e sol enquadravam uma imagem no centro da qual flutuava o barquinho. Todavia, nenhum barco é capaz de avançar indefinidamente sem acabar por chegar ao seu destino, por muito encantadora que a viagem seja.

A felicidade de Kati / Jane Vejjajiva. Barcarena: Editorial Presença, 2011.