Subo o jardim, e vejo o sol entre as flores, o
seu perfume que chega pelo ar, entre os que olham do pavilhão central, o mundo,
todas as possibilidades, todos os sonhos, todos os desencantos. Vejo-os chegar
com a esperança arrumada no bolso, subindo com um sorriso disfarçado para todo o alento
que precisam para este caminho.
Sinto-os no silêncio dos olhares, na postura de dignidade com
que olham estas paredes, estas salas incolores, por onde a promessa de vida se
sente ameaçada nas suas cores mais explosivas. Encontro-os na sala onde tantas
esperanças se revisitam para novas possibilidades, onde deuses de bata
branca nos inspiram a promessas futuras de novos começos.
Olho-os e sinto o sorriso construído para este momento limite,
um sorriso de segundos onde toda a delicadeza emerge para uma identidade
em fuga desta sombra que ameaça a respiração. Vejo-os a descer, de
volta ao jardim e entre os livros, desenhos de sonhos quase impossíveis, tricot
de dias novos, e guardo-lhes esse caminhar ao encontro de um dia possível.
Saio, reparo nos títulos dos jornais, as figuras de
um país velho, enclausurado em pequenos privilégios e sinto-me
próximo desse sorriso de segundos. De certo modo é um espaço que não se esquece. O que todas as manhãs explica ao mundo a
dignidade do ser, o valor do mais essencial - resistir e reconstruir os
dias.
Imagem: Copyright - Teresa Baião Lopes
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