quarta-feira, 25 de setembro de 2019

As palavras...

Está a vida nos livros? Claramente, não! Então que respiração fazemos com elas? A vida expande-se, ultrapassa os limites que podemos querer colocar e, na verdade não existe forma de expressão que a contenha em toda a sua multiplicidade. As palavras, as imagens, as formas são linguagens de representação do mundo. Cada civilização construiu a forma de nomear as coisas, de lhe dar um valor, de construir uma voz interior que desse significado a uma forma de vida, a uma visão do mundo.

Os livros são um dos objetos primordiais do que podemos chamar uma civilização. O que fazemos com eles não é a de adivinhar a vida, ou a de a descrever no seu sentido global. O que fazemos com eles é guardar a memória e as inquietações formuladas antes de nós. Elas são importantes porque com elas descobrimos que nos livros, as suas palavras nos fazem pensar melhor, afinal que podemos evoluir como pessoas, como sociedade. Apesar dos múltiplos écrans estamos muito sós, nas palavras que queremos dizer, na voz que não se ouve. As nossas palavras são manifestações de uma respiração que se escuta mal sob um ruído dominante dos media e de um poder formatado demasiadas vezes para os lugares comuns. 

Com a leitura podemos aceder a grandes possibilidades. É com ela que nos descobrimos, que verificamos que valores nos conduzem e que linhas de encontros conseguimos estabelecer com os outros. Os livros revelam a nossa autobiografia, falam muito do que somos, dos conhecimentos que multiplicamos, nas ideias que apreendemos e da perceção que temos do mundo e de nós próprios. 

Existem muitos livros, de diferentes géneros, de significativa diversidade. Eles, na sua diversidade constroem geografias de sentimentos, formas de ser, modos de pensar e de construir o mundo e são por isso um património de um profundo enriquecimento pessoal. Com eles fazemos viagens ligando o passado e o presente, numa ideia de algo a construir, a sonhar, embora nunca lá estejamos, esse futuro por viver. Os livros são por isso, caminhantes de ideias e lugares, por onde passámos e onde eles chegarão. Com eles vivemos a possível eternidade. 

Os livros são objetos que nascem com as palavras, emergem na linguagem e ao nomeá-las, estamos a dar-lhes a substância de existirem, mesmo que se refiram ao que não temos, mesmo que sejam os sonhos antes dos sonhos, ou tão só a respiração de ver o que se ama. Os livros e a leitura confirmam essa possibilidade maior de aceitarmos em partilha as vozes que nos chamam para o reconhecimento múltiplo da humanidade. São por isso objetos acima do espaço e do tempo, o que lhes dá e às bibliotecas a ideia de uma divindade, onde cada um pode chegar.


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