segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Festa das colheitas

 


No dia 14 de outubro de 2022 realizou-se a Festa das Colheitas do Agrupamento de Escolas António Rodrigues Sampaio, que decorreu na EB de Forjães organizada pelos professores, alunos, professores e auxiliares.

   A festa começou às 18.30 no campo de jogos da Escola Básica de Forjães. Cada turma estava representada numa barraquinha preparada pelos alunos e encarregados de educação, para vender produtos agrícolas, artesanais, assim como especialidades prontas a comer e a beber.

   Pelas 20.00 horas o Grupo de Zés Pereiras de Antas entraram no campo a tocar e a cantar. Seguiram-se as atuações dos alunos, do Grupo Associativo de Divulgação de Forjães e por fim  o DJ Surpresa.

 Valentina Torres, 5.º FA

 

Um poema

rilke1896

Mesmo que o mundo mude com rapidez,
 como nuvens em movimento, 
tudo volta outra vez
ao primeiro momento.

Sobre as mudanças, quanto
mais livre ainda se estira
e dura o teu pré-canto,
deus com a lira!

Não se compreende a dor,
não se aprende o amor,
e ao que na morte nos desterra

a mente é muda.
Só o canto sobre a terra
salva e saúda.

Rainer Maria Rilke: Sonetos a Orfeu, (II.19).

Um mês com... Agustina Bessa-Luís

 
"Lourença tinha três irmãos. Todos aprendiam a fazer habilidades como cãezinhos, e tocavam guitarra ou dançavam em pontas dos pés. Ela não. Era até um bocado infeliz para aprender, e admirava-se de que lhe quisessem ensinar tantas coisas aborrecidas e que ela tinha de esquecer o mais depressa possível. O que mais gostava de fazer era comer maçãs e deitar-se para dormir. Mas não dormia. Fechava os olhos e acontecia-lhe então uma aventura bonita e conhecia gente maravilhosa. Eram as pessoas que ela via no cinema ou que ela já tinha encontrado em qualquer parte, mas que não sabia quem eram. Não gostava de ninguém que se pusesse entre ela e a imaginação, como um muro, e a não deixasse ver as coisas de maneira diferente. Não gostava que lhe tocassem e, sobretudo, que a gente grande pesasse com a grande em cima da sua cabeça. Apetecia-lhe morder-lhes e fugir depressa. Mas não fazia nada disso. Ficava quieta e olhava para a frente dela, cheia de seriedade. Isto tinha o efeito de causar estranheza, e diziam sempre que ela era uma menina obediente e sossegada. Mas retiravam a mão. Tinham-lhe posto o nome de "dentes de rato". porque os dentes de rato eram pequenos e finos, e pela mania que ela tinha de morder a fruta que estava na fruteira e deixar lá os dentes marcados.
    - Já aqui andou a "dentes de rato" - diziam os da casa, escandalizados. Viravam e reviravam as maçãs, e em todas havia duas dentadinhas já secas e onde a pele mirrara. Era uma mania que ninguém podia explicar. (...)

   De repente aborreceu-se de usar bibes ou o uniforme preto que a mãe achava tão distinto. Vestia Lourença à inglesa, o que era muito desengraçado. Começou a ter birras que lhe davam para não comer. A mãe não sabia como lidar com ela. Já não era Dentes de Rato, e a sensatez dela evaporara-se. (...)
   Só o pai a tratava como dantes, sem muita confiança; mas olhava às vezes para ela como se a vida parasse à volta e só Lourença estivesse viva no mundo. Raramente lhe dava um beijo e, se o fazia, era com respeito e alguma severidade. Não era um pai camarada, como se usava ser; Lourença pensava que um pai desses não lhe convinha. Não enganavam ninguém, e notava-se logo que eram tão velhos como os outros. Ela preferia que o pai fosse assim, uma pessoa um bocado doutro tempo e que falava de coisas completamente desinteressantes - do preço do vinho e da crise da lavoura. Tinha segredos com a mãe, mas isso fazia parte do direito de serem os pais e não o quaisquer outras pessoas. (...)
   
   À noite, estando aberta a janela do quarto, uma pomba veio pousar no peitoril. Começou a dar voltas e a arrulhar. "É o meu presente de anos" - pensou Lourença. "Alguém o mandou, de muito longe..." O coração dela, oprimido e cheio de inconfessáveis tristezas, encontrou de repente consolação. Achou que o mundo inteiro esperava por ela, e os mares todos, com as suas tempestades, podiam ficar calmos porque ela assim queria que fosse."

Dentes de Rato / Agustina Bessa-Luís.Lisboa: Relógio d ´Água, 2017.

O Renascimento | V

 


Florença foi uma cidade essencial no desenvolvimento do Renascimento na pintura, na escultura e na arquitetura. Depois de Masaccio, Sandro Botticelli surge como um dos pontos altos da escola, ou tradição florentina. Com Botticelli algo novo acontece na pintura do Renascimento, como as formas humanas, as suas linhas esguias e ondulantes. Botticelli foi muito influenciado pelo desenho dos irmãos Pollaiuolo que foram os primeiros a desenhar o corpo para o estudar nas suas estruturas.

Com Botticelli a ideia de dissecar o corpo, como o faziam os irmãos Pollaiuolo já não existe do mesmo modo, tendo evoluído para uma ideia mais apurada da perspetiva e da anatomia humana e relaciona-se com o que a corte dos Medici desenvolveram na sua visão do mundo. A ideia de amor no neoplatonismo da Corte dos Medici influenciou a pintura de Botticelli. Os quadros mitológicos de Botticelli são de um lirismo e de uma beleza impressionantes.

A Alegoria da Primavera, ou O Nascimento de Vénus são dois quadros em que os elementos clássicos são reajustados ao espírito da época e dos valores ou símbolos conhecidos no tempo. Em A Alegoria da Primavera, quadro de 1478, o trabalho destinava-se a ser colocado na residência dos Medici. É um dos quadros mais significativos da arte ocidental, onde as figuras se apresentam em tamanho natural, dando uma ideia de grande monumentalidade com a chegada das flores, símbolo da Primavera. O quadro fá-lo usando a mitologia dos valores clássicos.

No quadro as referências ao mundo clássico são muito evidentes, com a introdução de Vénus (divindade associada à Primavera) e dela parece emergir uma credibilização de toda a cena e dos outros elementos. O Cupido aparece sob as árvores apontando uma flecha às Três Graças que representam a beleza, a castidade a sensualidade e onde também surge Zéfiro, o conhecido vento da Primavera. 

No quadro encontramos ainda, em vestes escarlate, Mercúrio - deus mensageiro dos ventos e que na tradição clássica dissipava as nuvens de modo a permitir que os raios solares iluminassem o jardim. Todo o quadro é profundamente gracioso na junção das Três Graças, a deusa Flora e Vénus tornando-o um dos marcos do Renascimento. Os traços de feminilidade, graciosidade e delicadeza fazem dele uma obra maior da pintura europeia e do Renascimento.

Sandro Botticelli, Alegoria da Primavera, c. 1482, Galeria Ufizzi, Florença.

À roda das palavras

Celebrada anualmente na Escola Básica de Forjães, a Festa das Colheitas resume-se em várias barraquinhas, uma barraca por turma, onde todas as turmas vendem de tudo um pouco para angariarem dinheiro para futuras viagens e também viagens de finalistas. Fomos expor algumas questões ao Sr. António, funcionário e porteiro da escola, de modo a obter relatos de como decorreu a Festa das Colheitas 2022. De acordo com o que nos foi dito pelo Sr. António, a organização da Festa das Colheitas é um processo mais complicado do que aparenta ser. Segundo ele, a Festa das Colheitas passa por uma nomeação organizativa do evento, onde é tudo planeado ao mais pequeno detalhe para que tudo ocorra dentro da conformidade. Quando lhe questionamos acerca do que mais gostou ele da festa, António disse-nos que gostou da festa em geral, afirmando ele que também adorou o facto de ter tido oportunidade de ver antigos alunos que andaram na escola de Forjães como de ter convivido com muita gente que não via há muito tempo. E afinal o que é a Comissão de Pais, que tanto ajuda estas crianças todos os anos para angariarem dinheiro? Sr. António contou-nos que é um conjunto de pessoas que deliberam e atribuem tarefas para as festas serem realizadas e que sem eles dificilmente haveria a possibilidade de realizarmos a Festa das Colheitas todos os anos como temos feito até agora. A festa das colheitas é um evento espetacular, onde podemos ver e assistir a um mar de gente e imensos espetáculos dos alunos para além de ser um evento perfeito para o convívio entre toda a comunidade escolar e participantes, diz António como forma de expressar o quanto a festa das colheitas é adorada por toda aquela escola e gente dos arredores.

Trabalho realizado por Daniela Fernandes e Luana Carqueijó

terça-feira, 25 de outubro de 2022

A Biblioteca - ao redor do ler e da leitura

 "Para mim ler é comer um pedaço de fantasia" (Rodrigo - 5.º FB)


Dando continuidade às atividades sobre o espaço da Biblioteca como lugar para descobrir o espaço, o que representa como possibilidade para o conhecimento, para os aspetos lúdicos, para a leitura como encontro com o que é possível imaginar. A Biblioteca como espaço que guarda uma memória, que cultiva a liberdade de acolher todos e de conceder janelas largas sobre o que é possível descobrir.

A leitura como espaço de construção de um imaginário, de enriquecimento de cada um, de viagem à procura de ideias belas, de aventuras que emocionam, ou daquilo que se desconhecia. A leitura como construção e aproximação ao possível, ao que é preciso construir com as suas imagens, para outros encontros.

A leitura e a biblioteca são o mais essencial ponto para tornar essa memória visível para os dias que se vivem entre muitas dúvidas e inquietações. Os alunos de diferentes turmas após uma conversa "quase filosófica" deixaram algumas impressões que abaixo se deixam em algumas imagens. 

 






segunda-feira, 24 de outubro de 2022

“Ler e escrever para a paz e harmonia” - encontro formativo com com João Manuel Ribeiro


Divulga-se a Ação de Formação de Curta Duração (6h) “Ancorar Leituras”, subordinada ao tema do MIBE deste ano, “Ler e escrever para a paz e harmonia”, uma iniciativa do grupo de trabalho SABE, da Rede de Bibliotecas do Concelho de Esposende.

A ação realiza-se no próximo sábado, dia 29 de outubro, entre as nove horas da manhã e as dezasseis e trinta, na Biblioteca Municipal Manuel de Boaventura, sendo dinamizada pelo escritor João Manuel Ribeiro. A ação é destinada aos professores da educação pré-escolar e do 1.º Ciclo do concelho de Esposende.

As inscrições devem ser efetuadas até ao dia 26, através do email:  biblioteca.municipal@cm-esposende.pt


Um poema


"Os mares de Homero deixaram 
de trazer, esbeltas, as suas naves

em nome dos sem-nome, continua
por desertos de areia, desertos sem
sentido, continua. por rostos no deserto,
os do sem nome ou rosto, continua.
ao fundo do deserto, diz-se gotas de
sangue e grãos de areia, a esfinge
no deserto, continua. no verdadeiro
nome do espesso líquido que se diz
vital, em toneladas certas, continua.

os divinos moinhos moendo devagar
fina farinha, inúteis mares de pó."

Ana Luísa Amaral, “Mediterrâneo”, in What´s in a name

O Renascimento | IV

 

Nos primórdios do Renascimento Fra Angelico e Fra Filippo Lippi são dois nomes que no século XV marcaram a pintura nesse período histórico e cultural.

Fra Angelico foi um monge dominicano que construiu os seus quadros com uma linguagem austera dos motivos religiosos e em que a luminosidade é particularmente viva. Foi um pintor importante do Renascimento não muito reconhecido porque o seu papel inovador não foi nos temas, mas no modo como os apresentou.

No seu quadro, A Virgem e o Menino no Trono com Anjos e Santos, de 1438-1440 há uma clara recuperação do estilo gótico visível nas linhas graciosas e nas cores fortes. No entanto verificam-se elementos inovadores, como sejam a utilização da perspetiva, da cor e o próprio desenho das figuras no modo como habitam o espaço, que confirmam uma evolução em relação ao gótico. Os elementos naturais em que os anjos são colocados, e o modo como a luz incide iluminado pontos das árvores mostra-nos que Fra Angelico foi um dos pontos de evolução do Renascimento na pintura.

Fra Filippo Lippi foi outro dos nomes que marcou a pintura dos primórdios do Renascimento. Filippo Lippi foi educado pelos monges carmelitas em Florença. Masaccio influenciou muito Filippo Lippi, pois a sua versão da Virgem e o Menino Jesus entre S. Frediano e Santo Agostinho foi apenas apresentada depois dos frescos de Masaccio na Capela Brancacci em Florença. Se Filippo Lippi aprendeu a monumentalidade com Masaccio introduziu-lhe uma imensa graciosidade e delicadeza, como as pintadas por Fra Angelico.

A Anunicação de Filippo Lippi, quadro de 1448-1450 tem uma doçura e uma ternura cativantes, no encontro entre o anjo e a jovem. Terá feito parte de um painel de mobiliário de um quarto de um nobre importante, possivelmente Piero de ´Medici que foi seu patrono. Os anjos em Filippo Lippi têm um ar feliz e de bem-estar. O seu filho, Filippino seria criado por Boticelli e daria a mesma ideia de bem-estar, mas já com contornos do que na vida humana se torna frágil, como se ela fosse um sonho etéreo sobre a realidade, onde os anjos flutuam.

Imagens:
Fra Angelico, A Virgem e o Menino no Trono com Anjos e Santos, c. 1438-140, Convento de São Marcos, Florença.
Fra Fillippo Lippi, Anunciação, c. 1448-1450, National Gallery, Londres.

Um mês com... Agustina Bessa-Luís

 


"Esposende tinha duas almas: ado sul, que era piscatória, e a do norte, que era banhista. Uma era feita de gente natural e misteriosa, com dramas e alegrias rápidas, como se um vento cínico e audaz, vindo de muito longe, talhasse a sua história. A alma do sul já existia quando o reizinho D. Sebastião jogava às laranjas com os seus cortesãos - e as comia. Porque o príncipe era guloso; em apetites de mesa a arrancadas de estribo perdeu a vida, e nós a independência e a lei dela. O que lá vai lá vai!

Quando eu fui pela primeira vez a Esposende, achei que sucedia alguma coisa de solene; como um rito. Era em Julho. Nas noites em que o calor abrasava, vinha do rio um hálito de vasa. Como se o princípio do mundo rompesse o cristal das areias e borbulhasse uma vida espessa e cega, no lodo. A motora do peixe descia pela corrente, os homens iam calados. Via-se o casco na linha da água, como uma faca abrindo a pele da noite. Os cães ladravam. A alma do sul estava acordada. Desde tempos muito antigos ela tinha aquele pacto com o mar, sobrevivia nos seus flancos, paciente, lentamente, ajustada à magra colheita de peixe e de sargaço.

A alma do norte floresceu um dia, construiu nos pinhais um chalé branco, pôs-lhe um azulejo azul, botou patamar e alpendre à moda de mestre Raul Lino. Plantaram-se tamarizes na avenida; alguma dama no seu mirante aprendia piano com um senhora do Porto, e tinha um chapéu com cerejas maduras. Distinguia-se: a sua gola de valencianas ficava cheia de grãos de areia quando ela saía à rua.”

 Memória de Esposende. In Vila e concelho de Esposende no IV centenário, 1572-1972, Agustina Bessa-Luís. 

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Semana da Alimentação

 
 

 

A alimentação caracteriza as pessoas e as sociedades. Enquadra-se na sua cultura, nos seus hábitos e tradições e pode ser refletida com vista a mudanças alimentares com ganhos ao nível da saúde e também da sustentabilidade do planeta que todos habitam.

A bióloga da Rio Neiva fez uma sessão para as turmas da EBARS e da EBF sobre como as escolhas que fazemos podem ser mudadas para melhorar a saúde e ajudar ao frágil equilíbrio do Planeta. Foram assim analisados como diferentes elementos deixam uma pegada híbrida no planeta e que níveis de Dióxido de Carbono a produção de determinados alimentos alcançam.

Ao mesmo tempo foram apresentadas sugestões ao nível das leguminosas e de como algumas algas e produção de insetos podem integrar a alimentação, vista como algo mais sustentável. As sessões foram muito interessantes e do agrado de todos. 

O Renascimento | III



Do primeiro Renascimento, o que se estabeleceu nas primeiras décadas do século XV, Paolo Uccello é um dos que deve ser destacado. Uccello foi um artista do Renascimento que viveu e desenvolveu a sua atividade em Florença e que se destacou sobretudo pela inovação que trouxe no campo da perspetiva.

Uccello tratou a perspetiva e pensou-a no seu resultado final, como a possibilidade de ordenar o mundo e as suas representações. A perspetiva introduz uma nova leitura na representação, pois ela deixa de ser apenas simbólica ou decorativa e assume uma leitura tridimensional dos objetos. A perspetiva é uma leitura do representado que orienta o nosso olhar, desde os planos mais próximos aos afastados, onde os objetos parecem convergir nos planos mais distantes.

Uccello organizou a perspetiva na convergência de linhas que encontram um ponto único, chamado ponto de fuga. A sua obra mais marcante foi A Caçada na Floresta, datada de 1460. O ponto de fuga do quadro e no qual os planos de organizam é o de um veado distante, quase invisível. Todas as figuras da caçada (caçadores, cavalos, cães) surgem de todos os lados, como a construção poética que se ergue numa paisagem de claro / escuro.

As ideias de Uccello já tinham sido desenvolvidas ao nível da perspetiva por Brunelleschi na cúpula da catedral de Florença. Uccello foi o primeiro a aplicá-la à pintura e influenciou os artistas nos anos seguintes pelas estruturas de perspetiva dos seus desenhos que apresentavam objetos em espaços tridimensionais. O ponto de fuga como aspeto determinante da composição e do olhar do observador marcaram a importância de Uccello na pintura do renascimento.

                     Paolo Uccello, ACaçada na Floresta, Ashmolean Musuem of Art and Archaeology, Oxford, 1460.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Um poema



"Lá vem o meu pobre Outono
que em troca daquela beleza
de vestir folhas douradas,
um vermelho sem igual
e um castanho especial,
sente a obrigação de abrir
a porta ao vento e à chuva ...

que nesta estação já perderam
a vontade de brincar
e lembram a toda a gente
que é tempo de trabalhar.
Ao Outono resta ainda
a bela consolação
de comer frutos de Verão".

Outono, João Pedro Mésseder, in O Livro dos Meses
Imagem: Copyright: Junaida


quinta-feira, 13 de outubro de 2022

CNL - 2023

 


Já foi lançada a 16a edição do Concurso Nacional de Leitura (2022/23).

Se és aluno do Agrupamento AEARS podes e deves participar neste importante concurso de leitura e escrita, que também engloba o desenvolvimento de capacidades muitos relevantes, da oralidade à compreensão de textos.
Em breve divulgaremos as obras a ler para o concurso fase escolar (AEARS), uma por cada ciclo (1.º, 2.º e 3° Ciclos).
Informa-te junto do teu professor/a de Português e ou na Biblioteca Escolar e aguarda pela indicação do livro que vai ser escolhido para o teu ciclo.

Participa!
A Biblioteca!

O Renascimento | II


 O Renascimento desenvolveu-se ao longo dos séculos XV e XVI. No entanto, antes do século XV já se encontram características na pintura que se vão identificar com o Renascimento. Em Giotto eles já se enunciavam, mas foi o rigor da representação e um maior realismo, onde a harmonia ganhou formas muito substantivas que figuras como Leonardo Da Vinci, Rafael ou Miguel Ângelo elevaram a arte do Renascimento. O humanismo influenciou profundamente aquele movimento.

O Renascimento na pintura iniciou-se em Itália, a meio do século XIII e alargou-se à Europa.  O momento mais alto do Renascimento surge no final do século XV. Os artistas que deram corpo ao Renascimento procuraram recuperar a tradição da cultura grega e romana. Foi Giotto que iniciou essa recuperação e, embora a sua pintura se enquadre na arte gótica, já é visível nele, o que vai caracterizar o Renascimento. Isto é, a representação de um modo naturalista, em que as figuras de temas bíblicos surgem com uma dimensão real, uma existência marcadamente humana. O realismo da existência humana é uma das marcas do Renascimento.

Foi com o pintor de Florença Masaccio que se inaugura a pintura renascentista e que sofreu influências de Giotto. Na verdade, Masaccio era uma alcunha para o seu nome, Tomasso de Giovanni di Simone Gaudi cuja vida foi muito curta.  A sua pintura é classificada como um pouco desajeitada, mas há nela algo de profundamente humano e onde a dimensão espacial que já se via em Giotto também aparece. 

As figuras de Jesus apresentadas como reais crianças, ou a Virgem com uma imagem de dignidade, onde se apresenta uma representação austera ligando-a à vida comum das pessoas são sinais marcantes de Masaccio e do primeiro Renascimento. Masaccio foi influenciado pela escultura e em particular de Donatello, com a sua representação tridimensional dos espaços e das perspetivas. Nos quadros de Masaccio encontramos as linhas da escultura de Donatello, ao nível da perspetiva ótica, com a representação da luz a incidir nos objetos. 

Em Masaccio já não existe a leveza do gótico, mas o drama humano incorporado nas histórias bíblicas, como em Adão e Eva expulsos do paraíso, obra de 1427, ou a Trindade de 1425. são muito marcantes.

Masaccio, A Virgem e o Menino, Galeria de Uffizi, Florença, c. 1426.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A Biblioteca - o seu espaço e as suas funções

 


"Gostei de colocar a hipótese de os livros serem como bichos. Isso faz deles o que sempre suspeitei: os livros são objetos cardíacos. Pulsam, mudam, têm intenções, prestam atenção. Lidos profundamente, eles são incrivelmente vivos. Escolhem leitores e entregam mais a uns do que a outros. Têm uma preferência. são inteligentes e reconhecem a inteligência. Os livros estão esbugalhados a olhar para nós." (Valter Hugo Mãe, "O rapaz que habitava os livros".

A Biblioteca tem-se apresentado dando conta daquilo que a caracteriza: o seu espaço, o que pode acrescentar a cada um, o modo como está organizada e o que pode ser, como espaço para todos. Das suas diferentes funções, a leitura apresenta-se como uma das suas mais importantes abordagens. Assim com o 6.º FA falou-se com os alunos sobre as bibliotecas, o que permitem oferecer e o papel que desempenham na formação de cada um e na construção do conhecimento.

A partir de alguns excertos de Valter Hugo Mãe e de Marcel Proust falou-se do valor da leitura, do que ela nos dá e do que permite transformar em nós e no convívio com os outros. A memória e os espaços da leitura e esse sinal de figuras e geografias que acompanham os leitores nas suas leituras. Alguns alunos leram alguns poemas, de Ler Doce Ler, como pontos para refletir sobre aquilo que envolve os livros e os seus leitores e nos permite comunicar com os outros.

Os livros, o que oferecem e aquilo a que estão sujeitos, o esquecimento, os sonhos deformados que o fogo em tantas épocas forjaram, como se o seu desaparecimento fosse o fim das suas ideias foram outros tópicos conversados. E a lembrança de uma das suas memórias mais belas, Alexandria e o sonho de Alexandre e os materiais da composição dos livros, a argila, o papiro, o pergaminho e o papel. No fim os alunos foram convidados a preencher um painel sobre A Biblioteca para mim é.... Com um livro, com a leitura posso... A seu tempo se divulgarão estes resultados.

"Os livros são a metade
dos sonhos que tu tens,
são a tua liberdade
e o maior dos teus bens,
porque tendo a tua idade
têm tudo o que tu tens."

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Dia Mundial da Saúde Mental

EBARS assinala o DIA MUNDIAL DA SAÚDE MENTAL com uma sessão de sensibilização, reflexão e debate sobre o tema deste ano do Parlamento dos Jovens, Saúde mental nos jovens: Que desafios? Que respostas?”, no Auditório, com a colaboração da Equipa de Psicologia e Orientação do Agrupamento.


O Município de Esposende, através da pessoa da Senhora Vereadora Alexandra Roeger, associou-se a esta iniciativa disponibilizando fitas alusivas ao tema, para serem colocarem no pulso, um dos símbolos utilizados para desafiar o estigma e desconstruir problemas associados à saúde mental.

A coordenadora

Isabel Morais




segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Um poema

"Paisagem rural
vindo à deriva
de há séculos;
a distância

amplia-se
o navio singra.
Outra vez a constante
música alimenta

um vazio à popa,
os Açores sumidos.
O vácuo atrás e o vácuo
à frente são o mesmo.
toda a ilha é um continente."

John Updike, “Azores”.
Imagem: Ilha do Pico, entre as vinhas e o negrume das rochas – © Maria Adelina.

Um mês com... Agustina Bessa Luís

 


   Agustina Bessa Luís, é um dos grandes nomes da literatura portuguesa contemporânea. A Guimarães Editora considerou-a a maior escritora portuguesa. Agustina mais que uma escritora é uma força da natureza, uma respiração sublime sobre os elementos desconexos e contraditórios que é a própria vida. De uma lucidez desconcertante, a sua obra constrói uma catarse sobre o papel do homem na sociedade humana. Com ela descobrimos em diversos livros os alicerces históricos e biográficos de uma cultura, nomeadamente nos seus timings contemporâneos. 

   Se todos somos a circunstância geográfica e cultural do sítio onde nascemos e vivemos, a obra de Agustina é o produto de uma região. Conhecedora da comédia humana, encontra-mos nela aforismos representativos de uma simplificação da vida. Maria Ordoñes, nome onde se escondeu um universo literário e cultural complexo e deslumbrante, começou a sua viagem a 15 de Outubro de 1922. Filha de uma senhora de Zamora e de um pai que pertencia à aristocracia rural do Porto, viveu entre o campo e a cidade, ficando por esta fascinada. Estudou nas Doroteias e divertiu-se nos serões de espetáculos geridos pelo pai e que tanto recebia cinema, como cafés concerto. Aos vinte e dois anos escolheu marido num anúncio de jornal, onde “procurava corresponder-se com alguém inteligente e culto”. O afortunado, com quem partilhou a vida durante várias décadas, Alberto Luís, ordenou a sua escrita e deu-lhe letra de máquina. 

   Agustina, de coração amarantino, o que ousada e modernamente já tinha dado a Amadeo, os contornos de uma ambição futurista da vida, no sentido mais livre possível, deixou-nos em letras apertadas de cadernos manuscritos personagens e atmosferas que nos são familiares. Iniciou-se na escrita, com Mundo Fechado, de 1948 e teve em Sibilia, de 1954, o romance que lhe deu visibilidade. Soubemos há alguns anos, que no início da década de 40, a escritora concluía os até agora desconhecidos Ídolo de Barro e Deuses de Barro, dois livros assinados com nome de ressonâncias maternas: Maria Ordoñes. Ferreira de Castro dizia dela que praticava “a depuração das palavras” e Eduardo Lourenço, que escrevia com “a novidade de um olhar insólito veemente e desarmante”. 

   Escreveu como quem respira, em doses imensas de palavras e livros (mais de sessenta), em romances nada convencionais, o que somos como modo de ser. Dos seus textos saiu a matéria-prima de filmes, como Francisca, Vale Abraão ou o Convento. Participou na vida cívica de modo intenso, tendo dirigido o 1º de Janeiro e o Teatro Nacional D. Maria II. Disse-nos em entrevistas cheias de sabedoria, que gostando dos aplausos, prefere ter graça a ter fama e revela-nos que sendo conhecida, não é muito lida. Dá-nos os seus livros como memória de uma ideia, de uma forma de humanidade, pois uma longa vida não se descreve, pois ninguém a vê passar. 

 Agustina é uma escritora criadora de figuras de uma dimensão muito peculiar e tem-nos dado a voz de uma geografia física e humana capaz de compreender a relação do Homem com os mitos, o simbolismo dos seus valores. Criadora de palavras que nos conduzem a caminhos onde se identificam os percursos da Humanidade, acima do contexto histórico, na procura de uma identidade que o é por si. 

   Da sua obra de ficção, à poesia, ao teatro, às crónicas, ao livro de viagens, aos ensaios a sua obra é uma referência pelo sentido de humor das suas representações, mas pelo modo também frontal como nos faz encarar a realidade. Há nela a procura de entender o quotidiano usando uma sabedoria própria, tirada de uma determinada realidade, mas também uma imensa liberdade que se assume como essencial para se afirmar e descobrir. A liberdade como uma das mais belas concretizações do Homem, embora torneada de elementos nem sempre claros e construídos sobre si próprio. 

   Retemos dela uma ideia de uma luz de quem caminhou ao contrário, da maturidade para a infância, de quem nos ensinou que a vida é demasiado importante para ser levada a sério e que por isso nada mais difícil do que o gesto grave, a dureza do caminho, para os que procuram um lugar de felicidade, de conquista de individualidade. Por isso as fórmulas rápidas e fáceis são inexpressivas de qualquer verdade, pois em cada ser há uma respiração diferente. Nas suas obras, as mulheres de diferentes gerações revelam essa aspiração de humanidade, que condensam o que viveram, o que sonharam, em luta com o real sem se saber se se ousou o suficiente, se a afirmação foi suficiente para chegar a esse momento quase final em algo que se compreendeu. 

   Agustina Bessa-Luís é uma figura maior da nossa escrita, a que convidamos a descobrir e por isso ela foi escolhida para ser alvo de destaque como escritora do mês na Biblioteca. O seu olhar como figura humana pode ser encontrada biograficamente em muitos dos seus livros, como por exemplo em Sonho de Cão ou Dentes de Rato, entre outros. Destacamos pois Agustina, em Outubro, mês do centenário do centenário do seu nascimento em 2022, pela sua dimensão como figura da cultura portuguesa deste século e do passado. Pela escrita, pelos temas, pelo humor e por aquele sorriso de quem já parece ter percebido o sentido das coisas e por isso sorri para o horizonte, como a criança acabada de nascer. O final de Sibila dá-nos essa dimensão de uma forma clara.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

O Renascimento | I


O Renascimento foi um dos movimentos mais importantes da arte europeia com influências profundas na sociedade entre o fim da Idade Média e o século XVI. É dele que falaremos na publicação semanal durante o primeiro período (como recurso educativo), integrado no Plano nacional das Artes.  A palavra "Renascimento" teve diferentes significados e não existe uma pintura renascentista que possa ser delimitada em características únicas ou definíveis. Ao contrário da arte gótica, expressão de uma sociedade criada pelo mundo feudal e pelas tradição românica e bizantina, o Renascimento é a expressão de uma luz em evolução.

O Renascimento marca o surgimento e desenvolvimento de um mundo novo, o moderno que daria forma a uma nova sociedade. Na arte, o Renascimento incentivou um novo estilo, uma nova forma de observar, onde o realismo e os elementos naturais tinham uma importância muito substantiva. A arte gótica era construída como marca de uma sociedade que propunha influenciar espiritualmente os observadores. No Renascimento, os elementos pintados refletem o mundo do observador e tentam criar uma conversação com o próprio observador. A emoção é agora projetada de um modo diferente. De algum modo, o observador migra para o interior de um quadro do Renascimento.

Na pintura do Renascimento, o ponto de fuga nasce do próprio observador que lê as próprias linhas da perspetiva. A luz integra o quadro renascentista de um modo que o observador as sente de um modo muito mais intenso. A imagem na pintura renascentista é uma construção da visão do observador. Na arte pré-renascentista, ainda se observa que quem contempla revela uma dimensão divina, o que mais tarde será alterado para uma visão humana. Nessa dimensão se construirá a visão do Humanismo e de uma ideia diversa para o Homem no mundo e para a própria religião.

Na Literatura, na Escultura e na Pintura muitos foram os nomes que lhe deram forma. Petrarca simboliza o princípio temporal desse movimento, de uma ideia que tentava conhecer muito sobre diferentes domínios. A restauração da cultura greco-romana, o valor do corpo humano como sinal de juventude e de beleza foi um das chaves do Renascimento e essa ideia que Aristóteles tinha enunciado, o valor e o sinal de ser instruído. Ou seja, a capacidade refletir criticamente, de modo a encontrar o sentido das coisas e as sombras que escondiam essa revelação capaz de compreender o universo e contemplá-lo de um modo integral.

O Festim dos Deuses / Giovanni Bellini, 1514, Galeria Nacional de Arte, Washington DC.

Dia nacional da água

 


Ontem, dia 3 de outubro de 2022, as turmas do 5º MB e do 6.º FB, no âmbito da comemoração do Dia Nacional da água em parceria com Esposende Ambiente e águas do Norte deslocaram-se, na companhia dos professores de Ciências Naturais, à estação elevatória de Cepães, para participar num conjunto de atividades promovidas pela Esposende Ambiente e pelas Águas do Norte.

Os alunos começaram por receber uma pequena palestra, com observação "in loco", de fauna e flora local.

Essa palestra foi proferida pelo Vigilante da Natureza Belmiro Viana, do Parque Natural Litoral Norte.

As turmas foram alertadas para a preservação quer das espécies vegetais, quer animais, tendo-se recorrido a binóculos para observação de diversas espécies de pássaros que circundavam a nossa zona de observação.

De seguida, os alunos participaram no embelezamento da estação elevatória, a qual está a ser decorada com pinturas alusivas à natureza envolvente.

Posteriormente realizaram um jogo de perguntas e respostas com questões alusivas à preservação e conhecimento ambiental e finalmente completaram dois puzzles gigantes.

Foi uma manhã bem passada com atividades diferentes, as quais nos alertaram para a necessidade de preservarmos os canais aquíferos, bem como a fauna e flora que a rodeia.



segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Um Mês com... Agustina Bessa-Luís


Mensalmente, será dado destaque a um escritor. Agustina Bessa-Luís celebra este
ano, o centenário do seu nascimento. É uma das grandes figuras da cultura portuguesa e deixou-nos uma obra de grande valor literário e artístico. Ao longo do mês deixaremos algumas ideias e publicações sobre esta importante escritora.

"Todos os meus livros são, afinal, só isso, a oportunidade de milhões de almas, únicas, todas elas, almas de sapinhos cheios de importância de viver. [...] Uns partem um pouco depois de dizerem bom dia, outros ficam até morrer. Todos se continuam naquilo que têm de profundamente entre si - a vocação para serem sós, porém aceites por cada um dos outros. Porque a solidão que me acusam de impor aos meus personagens, como uma grilheta, é apenas a sua individualidade biológica, a exclusividade, a reivindicação superior da sua própria luta. Um homem jamais corresponde a outro homem; as suas reacções e conclusões não equivalem a vivência de outra alma, a experiência do outro eu. O mistério do eu cumpre-se em cada homem de forma única".

 (1) Agustina Bessa-Luís, in Revista "Lusíada", Porto, Outubro - 1955