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A Civilização Fenícia   (1500 a 700 a.C.) - A sociedade  e a arte - 

Não deixa de ser curioso que dos inventores do alfabeto não existam grande registos escritos da sua própria cultura. Na verdade o conhecimento da Civilização Fenícia chega-nos muito por fonte indireta, dos povos que os dominaram quer tenham sido os Persas, os Gregos ou os Romanos. A Civilização Fenícia foi algo como uma fénix que soube sobreviver em diferentes aspetos, entre a Idade do Bronze e o início da era cristã, mesmo quando já não existia.

Os Fenícios foram o povo com mais importância no comércio do Mediterrâneo, no Mundo Antigo. Oriundos da zona da Síria e do Líbano ocupavam uma faixa de território na parte mais oriental do Mediterrâneo. Com o desenvolvimento de cidades  junto à costa, como Biblos, Sídon ou Tiro fizeram dos portos naturais e das zonas costeiras espaços de grande comércio. As zonas montanhosas davam-lhes  acesso às florestas de madeira de cedro, um dos seus grandes produtos de comércio. As conquistas de Alexandre no século III a.C, colocariam fim a esta civilização.

Além do comércio praticavam a agricultura de cereais, da vinha, do algodão e do linho. Apesar disso, a sua marca mais importante foi o comércio, através da construção de um conjunto de rotas que os levariam a percorrer todo o Mediterrâneo, alargando a sua influência em toda a costa africana, na Península Itálica e na Península Ibérica. É aceite que tenham chegado às Ilhas Britânicas. Em muitos pontos destas rotas criaram colónias e feitorias e que serviam como locais de comércio. As mais importantes foram Cartago, no norte de África, Palermo no sul da Península Itálica e Cádis na Península Ibérica. Este desenvolvimento comercial foi único no Mundo Antigo e constitui uma das marcas desta civilização.

A civilização comercial dos Fenícios procurava nesses diferentes locais matérias-primas que usava para a produção de diversos produtos. Além das matérias-primas locais procuravam metais preciosos para a produção dos mais diferentes objetos. É de destacar os feitos em  cerâmica, em marfim e em madeira de cedro. Já produziam o vidro, o que aprenderam com os Egípcios, sendo o seu de maior qualidade, mais transparente devido à composição das areias do Mediterrâneo Oriental. Produziam um tinta designada púrpura que era feita a partir de um corante natural, um marisco (O múrice) que era usada para tingir os tecidos.


A Civilização Fenícia produzia os seus produtos numa quantidade assinalável e conseguia colocá-los em largas zonas do seu comércio marítimo. A construção naval foi outra atividade de grande relevo para esta civilização. O fim da civilização fenícia não significou o fim da sua sociedade, pois os povos do Mediterrâneo conscientes da sua superioridade mantiveram muitas das suas formas de trabalho e produção. 

A Civilização Fenícia organizava-se em cidades-estado, um pouco como iria fazer a Civilização Grega, com governos próprios independentes uns dos outros.  Na Fenícia o sistema de governo era uma monarquia chefiada por um rei e que era muitas vezes o mais rico mercador da cidade.  Existiam diferentes grupos sociais como, os artífices, os marinheiros, os camponeses e os escravos.

Das suas atividades culturais, a escrita alfabética foi a mais importante. A escrita das civilizações do Mundo Antigo baseava-se em imagens, o que era muito repetitiva e pouco prática. Com os Fenícios desenvolveu-se uma escrita baseada em sons que eram representados por 22 sinais, a que se deu o nome de alfabeto. Foi do alfabeto fenício que se desenvolveram outras escritas alfabéticas, como a da Civilização Grega e Romana. A invenção da escrita alfabética fez aproximar grupos e povos no espaço do Mediterrâneo.

 A arte da Civilização Fenícia foi marcada pelas viagens comerciais realizadas no Mediterrâneo. Não foi uma arte marcada por uma grande originalidade, mas procurou inspirar-se nos povos que visitava. As sepulturas dos Fenícios são semelhantes às que se encontram, por exemplo na Mesopotâmia.

Construíram altares nas zonas mais altas das suas cidades, onde faziam sacrifícios a divindades que se identificavam com a Natureza.


 Na Arquitetura criaram templos com grandes pátios orientados a partir de um altar principal  e decorados com colunas e estátuas. A verticalidade dos monumentos era a sua principal característica, pois eram monumentos erigidos em pequenos espaços. Nas cidades construíram palácios e templos. Na Escultura representaram divindades e outras figuras em pedra, marfim e terracota. A cerâmica Fenícia foi uma das áreas mais importantes da sua produção artesanal.

A influência de outras civilizações marcou muito a arte funerária, onde se verifica a influência de diversas civilizações do Mediterrâneo, a Micénica,a Grega ou a Egípcia. Influência que se nota ou nos motivos decorados, ou na organização espacial dos túmulos. Realizaram trabalhos em marfim (estatuetas), em ouro, prata, cobre e bronze (objetos para os santuários, jóias, ou moedas), assim como se dedicaram à produção artesanal de mobiliário. Os objetos eram decorados  com elementos do quotidiano ou com representações de animais, ambas muito naturalistas e fiéis à realidade.

Na Pintura as características são idênticas à da escultura, pois as duas incorporavam-se um na outra, fazendo os artesãos a pintura das obras esculpidas nos diferentes materiais.

Minutos de Leitura (IX-3.º Ciclo)


"A minha mãe.
É a mãe mais bonita,
Desculpem, mas é a maior,
Não admira, foi por mim escolhida,
E o meu gosto, é o melhor,
E esta é a canção mais feliz,
Feliz eu que a posso cantar,
É o meu maior grito de vida
Foi o seu grito, o meu despertar,
Canção de mãe a sorrir,
Canção de berço de embalar,
Melodia de dormir,
Mãe ternura a aconchegar,
Canção de mãe a sorrir,
Gosto de ver e ouvir,
Voz imagem de sonhar,
Imagem viva lembrança,
Que faz de mim a criança,
Que gosta de recordar

A minha mãe,
É a mãe mais amiga,
Certeza, com que eu posso contar,
E nem por isso, sou a imagem que queria,
Mas sempre me soube aceitar,
Razão de mãe a dizer,
Mãe cuidado a aconselhar,
Os cuidados que hei-de ter,
As defesas a cuidar,
Saudade mãe a escrever,
Carta que vou receber,
Notícia de me alegrar,
Cartas, visitas encontros,
Essa troca que nós somos,
Este prazer de trocar,
Canção de mãe a sorrir,
Gosto de ver e ouvir,
A ternura de cantar."


António Variações, Deolinda de Jesus. 
Imagem: Copyright - Gustave Klimt, Mãe e filho, 1917.
 

Minutos de leitura (IX)


"Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.

Nunca trocaria as filhas por nada, nem guloseimas nem maravilhas.
As filhas da senhora eram as suas maiores alegrias, as suas companhias.
Com elas passava os dias, e os dias eram só amor que aumentava.

A senhora sorria.

Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.

E as filhas brincavam e cantavam de contentes.
Passavam os dias a fazer coisas diferentes.
Inventavam peripécias, vestiam disfarces, sonhavam com árvores quando espalhavam sementes.
Iam quintal fora, tão vistosas, com as mãos estendidas sobre a terra, e a terra preperava-se para ser cultivada.
… A senhora sorria
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.

Dormiam numa cama grande, as filhas, alinhadas por ordem de chegada: primeiro a mais velha, depois, a do meio e, por último, a mais nova.
A senhora dizia-lhes boa noite e beijava-as. As filhas sossegavam.
Achavam que, deitadas, adormeciam como a andar nas nuvens. Voavam.
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.

Estavam as filhas doentes e o importante era esperar.
Fazer o que mandava o doutor e esperar.
A senhora penteava uma e outra e mais outra.
A senhora beijava uma e outra e mais outra.
A senhora sorria para uma e outra e mais outra.

As filhas acreditavam que no coração da mãe
Havia uma corda atada ao coração de todas elas, porque a senhora era incapaz de parar de amar.
Ela era incapaz de parar.
E a senhora esperava.
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.

Tão felizes ficaram todas por estarem bem de saúde…
Tinham sido corajosas.
Só precisaram de esperar. E esperariam sempre por uma e outra e mais outra.

E a senhora disse: - Eina, que estou tão feliz.

E as filhas riram-se com ela. Juntas, as filhas e a mãe eram na verdade quatro tesouros.
Uma e outra e outra e mais outra. Quatro tesouros.
De amor.
Valiam mais do que todos os sacos de ouro juntos."

Quatro tesouros / Valter Hugo Mãe. Lisboa. Alfaguara. 2011.
Em baixo apresentação do livro que é um projeto da Pediatria Oncológica do Hospital de São João com o escritor Valter Hugo Mãe.


Biblio@rs (IV-V)



A Civilização Egípcia   (3500 a 500 a.C.) - A arte: A Escultura - 

A escultura foi com a arquitetura e a pintura uma das áreas de grande criação artística da Civilização Egípcia. A escultura foi nesta civilização usada para criar grandes estátuas, de dimensões colossais, ou pequenas estatuetas.
As grandes estátuas tiveram diversas criações, sendo algumas das mais significativas, as do complexo de Abu Simel, na Núbia feitas no tempo de Ramsés II, ou as Mémnon que estão junto ao templo funerário de Amenófis II. Ainda integradas pode-se indicar as esfinges que se encontram junto às pirâmides de Gizé. Nesta última juntou-se a representação de uma cabeça humana num corpo de leão, sinal para idealizar a força do faraó personificada no animal.

A escultura na Civilização Egípcia representava o papel essencial dos faraós e das divindades. As suas imagens eram feitas a partir de uma idealização caracterizada pela ausência de emoção e portadores de uma ampla serenidade. Era a forma de criar a ideia de imortalidade nessas figuras.  As figuras eram desproporcionadas de modo a criar um sentido de força e grandeza sobrenaturais.

Ainda na área da escultura, esta civilização criava pequenas estatuetas designadas Usciabtis, ou Shauabti que eram figuras funerárias em miniatura. Eram esmaltadas com acabamentos em azul e verde e que tinham o fim de realizar no além, as tarefas mais difíceis em substituição do faraó. Começaram por ser moldadas em cera, tornando-se com o tempo mais complexas e feitas a partir da madeira, da pedra ou de bronze.  Muitas vezes estas estatuetas eram colocadas em paredes, ou colunas.

Ligada ainda à escultura está todo o ritual da mumificação. Acreditando numa vida após a morte de uma forma tão evidente, era preciso assegurar que o corpo chegasse ao outro mundo bem conservado. Eram os sacerdotes que realizavam a mumificação. Depois de mumificado (extraído os órgãos e limpo o corpo) seguiam-se um conjunto de rituais funerários de modo a preparar a viagem do corpo no sarcófago. Objetos pessoais acompanham o sarcófago numa uma viagem pela eternidade.

Houve momentos em que o politeísmo teve algumas interrupções. Foi o caso de uma das mais belas rainhas do Egipto, Nfertiti. O seu nome significa "a mais bela" e foi um dos poucos casos em que a mulher do faraó chegou a ser rainha e deusa. O culto passou a ser desviado das diversas divindades e concentrado na figura do faraó e da divindade solar, Aton. Após a morte de Akhenaton, Nfertiti pode reinar com um poder absoluto existindo dados arqueológicos encontrados em Amarna que o comprovam.  Nfertiti foi uma exceção na longa história da Civilização Egípcia, mas deixou-nos alguns vestígios de uma beleza muito substantiva nas estatuetas que a caracterizam.

Minutos de Leitura (VIII-3.º Ciclo)

Quantos caminhos terá um homem de percorrer 
antes que o considerem um homem?
Quantos mares terá uma pomba branca de sulcar
antes que possa descansar na areia?
Quantas vezes terão os canhões de disparar
antes de serem banidos para sempre?
A resposta, meu amigo, está no vento que passa,
a resposta está no vento que passa.

Quantas vezes terá um homem de erguer a cabeça
antes de conseguir ver o céu?
E quantos ouvidos terá de possuir
até que consiga ouvir as pessoas chorar?
Quantas mortes serão necessárias até que saiba 
que já morreu gente demais?
A resposta, meu amigo, está no vento que passa,
a resposta está no vento que passa.

Quantos anos pode uma montanha existir
antes de ser arrastada para o mar?
Quantos anos podem certas pessoas viver
antes que lhes permitam ser livres?
E quantas vezes pode um homem virar a cara
Fingindo que não vê o que vê?
A resposta, meu amigo, está no vento que passa,
a resposta está no vento que passa.